Crítica: Liga da Justiça de Zack Snyder

O ano é 2017. E eu estou diante da possibilidade de reencontrar velhos amigos que me acompanham desde criança, através de desenhos televisivos e quadrinhos de papel. Mas dessa vez, a aventura ganha o tamanho de uma tela de cinema, majestosa e repleta de encantamento.

Nela, eu pude ver, em toda sua glória, uma das coisas que mais marcaram a minha infância: Eu vi um homem voar. Nela, meu amor pelos personagens da DC Comics foi capaz de se sobrepor a problemas que somente mais tarde eu seria capaz de reconhecer, quando mais do que falhas técnicas (qual filme não as têm?), o que veio à tona foram falhas humanas, morais, e isso é pior do que qualquer vilão que o mais habilidoso quadrinista for capaz de criar.

Ao mesmo tempo, uma pequena centelha dava sinais de vida sob um inesperado pedido: “Release the Snyder Cut”. E um movimento que começou tímido, desacreditado, ganhou força, espaço e relevância. Até que em 20 de maio de 2020, foi confirmado que meus super-amigos teriam uma nova chance de mostrar o seu verdadeiro potencial.

Zack Snyder estava de volta ao lugar que sempre foi seu: o posto de diretor da adaptação cinematográfica de “Liga da Justiça”. Ele, que tinha uma inacreditável quantidade de material inédito e que viu a proposta do acréscimo de novas filmagens ser aprovado pelo estúdio.

Ele, que desde o início desse retorno, sabia que o resultado final seria a realização de um sonho e o necessário fechamento de um ciclo. Ele, que dedicou cada segundo da improvável produção à memória de sua filha Autumn, cuja precoce partida serviu de impulso para uma campanha mundial em prol da prevenção de suicídios.

Com a estreia do aguardado filme que ganha as luzes sob o apropriado título “Liga da Justiça de Zack Snyder” (Zack Snyder’s Justice League), temos a oportunidade de reencontrar alguns dos nomes mais influentes quando se trata de quadrinhos de super-heróis:

O bondoso alienígena que tem mais senso de justiça e caráter do que muitos nascidos nesse planeta. A princesa/guerreira amazona que não hesita em lutar por aqueles que dela precisam.

O bilionário soturno e inteligente que pode comprar todas as coisas, menos o que de fato importa nessa vida e, ainda assim, segue íntegro e justo. O rei dos mares que reconhece a necessidade urgente de se lutar também pelo mundo da superfície.

O corajoso jovem cujas partes mecânicas ajudam a destacar ainda mais a magnitude de sua humanidade. O velocista mais rápido do mundo, que encontra nesse grupo tão díspar, uma família para chamar de sua.

Henry Cavill, Gal Gadot, Ben Afleck, Jason Momoa, Ray Fisher e Ezra Miller reprisam seus papéis, têm seus momentos de destaque próprio e alcançam o patamar que lhes é de direito entre os fãs dos icônicos personagens interpretados por eles. E ainda sobre espaço para um muito mais elaborado Steppenwolf (Ciarán Hinds) e para uma incômoda – no melhor sentido da expressão – versão do Coringa (com Jared Leto também reencontrando seu lugar sob o sol do Universo DC).

Embora com várias e bem-sucedidas / necessárias mudanças no roteiro – em comparação ao visto em 2017 – o cerne permanece o mesmo de um bom filme do gênero: o planeta Terra está em iminente perigo de destruição e precisa do auxílio dos super-heróis. Dessa vez, com o merecido destaque, a ameaça ganha a forma do tirano Darkseid (Ray Porter), governante do planeta Apokolips, que não tem o menor pudor em assumir a responsabilidade pela destruição de mais de cem mil mundos, e que quer mais: ele quer tudo.

Essa é a justificativa ideal para a inserção de ótimas cenas de ação, que nos fazem pensar em como seria gratificante visualizá-las não apenas em nossas televisões ou computadores, mas em uma tela de cinema. A isso, junta-se uma trilha sonora imponente de Tom Holkenborg, que consegue aprimorar ainda mais o que o visual já entrega de satisfatório em pouco mais de quatro horas de duração do longa – pode parecer muito, mas acredite: existe uma fluidez tão grande entre todos os pontos da narrativa, que, com o subir dos créditos, é provável que muitos nem tenham sentido o tempo passar.

No fim das contas, a verdade é que a Liga é da Justiça, é de Zack Snyder, mas, principalmente, é de cada um que nunca deixou de acreditar em sua força para resgatar aquela esperança que, embora muitas vezes coloquemos em dúvida, continua com sua faísca intacta e permanente em nossos corações.

Se haverá uma continuação desse Universo? As probabilidades dizem que não – ainda que exista material de qualidade para essa base. Mas, como fã, eu me darei o direito de acreditar que as portas podem estar apenas encostadas, não fechadas por completo. Afinal, há alguns anos, certo movimento pequenino conseguiu o que a maioria julgava impossível e, para um verdadeiro super-herói, “impossível” é uma palavra que não existe.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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