Crítica: “Aqueles que me desejam a Morte”

Baseado no best-seller de Michael Koryta, lançado em 2014, e que agora chega ao Brasil pela Editora Trama, “Aqueles que me desejam a Morte” (Those who  wish me dead) conta uma história interessante na medida certa – embora com claras diferenças do livro, como é possível perceber apenas lendo o texto contido em sua contracapa -, mas que pode parecer simplória demais para as exigências rígidas que, infelizmente, se tornaram um elemento tão frequente em nossa sociedade.

A trama, que se passa no estado americano de Montana, nos apresenta Owen (Jake Weber), um perito contábil forense que vê não só a sua vida, mas a de seu filho pré-adolescente Connor (Finn Little), serem postas em risco, por ter descoberto fraudes suficientes para colocar as carreiras de influentes políticos em xeque.

Após uma tentativa de fuga que em parte acaba frustrada – graças à ação da dupla de mercenários formada por Jack e Patrick (Aidan Gillen e Nicholas Hout) -, Connor se vê sozinho no meio de uma floresta, em busca de alguma ajuda, que nem faz ideia de como ou de onde chegará.

Tal auxílio atende por Hannah (Angelina Jolie), uma bombeira florestal com dificuldades em concentrar-se totalmente em seu trabalho devido a um stress pós-traumático vivido no ano anterior. Mas, o instinto de proteção fala mais alto e é hora da personagem buscar forças para seguir em frente e amparar o garoto cuja morte é a única coisa que importa a poderosos sem escrúpulos, como o misterioso Arthur (Tyler Perry, em curtíssima participação).

O que de fato dá sustentação ao filme é a qualidade de alguns de seus personagens. Além da sempre esperada boa atuação da protagonista Angelina Jolie, outra coadjuvante merece destaque, por entregar uma das figuras ficcionais mais cativantes dos últimos tempos.

Allison (Medina Senghore), monitora-chefe de um acampamento de sobrevivência para jovens e esposa do xerife Ethan (Jon Bernthal), foge por completo do estereótipo de frágil mulher grávida, graças a ações que rendem parte dos melhores momentos vistos em tela.

A sempre importante trilha sonora cumpre seu papel no quesito criação original com eficazes resultados instrumentais, assim como traz faixas já conhecidas como “God’s gonna cut you down” (na aclamada versão de Johnny Cash) e “Lighthouse” (ótimo trabalho de William Prince).

Existem falhas, em especial no que diz respeito à excelência da representação de ferimentos, sejam queimaduras ou hematomas provocados por agressões físicas. Além disso, certas sequências que apresentam a ferocidade com que o fogo avança na floresta, após um incêndio criminoso, também podem não serem as mais convincentes.

Mas, o longa dirigido por Tayllor Sheridan (que também assina o roteiro junto a Charles Leavitt, e do próprio autor da obra original, Michael Koryta) não tem seu alicerce sustentado na extrema necessidade de apresentar os efeitos mais decisivos do mundo – como é o caso de outras estreias recentes, em que o visual é responsável por quase a totalidade da empolgação que desperta no público.

Dessa vez – e ainda que, de maneira óbvia, o fogo seja um dos principais componentes da narrativa – tais imprecisões podem ser minimizadas se, de fato, quisermos aproveitar a boa história que molda “Aqueles que me desejam a Morte” e que, após seus 100 minutos de duração, deve incitar alguns espectadores (assim como eu) a querer conhecer o livro que serviu de base para esta adaptação cinematográfica.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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