Crítica: “Espiral – O Legado de Jogos Mortais”

Quando uma saga – seja cinematográfica ou literária – conquista êxito tamanho para tornar-se referência a várias outras produções do gênero, pode ser difícil desapegar-se dela, encarar sua finitude, vide a quantidade de rebootsremakes e spin-offs que são lançados continuamente no mundo do entretenimento.

Mas, pode ser ainda mais complicado estendê-la através das mais diversas ramificações, sejam eficientes ou absurdas, que na maior parte das vezes, apenas contribuem para que seu impacto seja cada vez menor, diante da passagem dos anos ou do ineditismo de outras produções.

“Espiral – O Legado de Jogos Mortais” (Spiral: From The Book of Saw) já carrega, desde seu título, a imensa responsabilidade de fazer parte da aclamada franquia iniciada em 2004 (cujo primeiro episódio fez história). Ao lado desse encargo, há a necessidade de se impor como algo novo, com força o suficiente para, quem sabe, dar início a uma “nova saga” – embora beba, até fartar-se, da fonte original.

Dirigido por Darren Lynn Bousman – que já tem experiência prévia com a franquia, por ter estado à frente da direção dos episódios 2, 3 e 4 – o longa conta com uma narrativa que pende mais para o lado do suspense policial do que para o terror em si.

Ainda que tenha o elemento mais clássico e importante, um serial-killer criativo e competente para criar armadilhas mortais, sai de cena a deturpada (compreensível?) justiça praticada por John Kramer / Jigsaw (Tobin Bell), para dar espaço ao que parece ser “apenas” um caso de vingança pessoal, o que acaba tirando um pouco o filme do rumo que se dispôs a seguir.

Chris Rock, que também colaborou com o roteiro, dá vida ao protagonista Ezekiel “Zeke” Banks, um policial que insiste em manter-se na linha da moralidade, mesmo com uma forte e visível rede de corrupção à sua volta.

Ele é o “escolhido” da vez para tentar decifrar os enigmas propostos pelo novo assassino, que seguem o mesmo modelo visto anteriormente, com mensagens pré-gravadas e a entrega do que seriam “souvenirs” macabros de cada uma das vítimas, que têm como elo em comum o fato de trabalharem em algum departamento relacionado à justiça.

Para ajudá-lo na busca pelo assassino, o experiente Zeke tem como parceiro de trabalho o novato William Schenk (Max Minghella), que vê na possibilidade de ingressar na profissão – mesmo que de maneira tão radical, com um caso dessa magnitude e periculosidade – a realização de um sonho que tem desde criança.

Se o nome de Samuel L. Jackson surge em destaque no pôster oficial, o mesmo não acontece com seu personagem, Marcus Banks. Pai do protagonista, o policial aposentado tem uma participação bem restrita, o que não significa que não tenha importância, sendo, aliás, responsável por uma das melhores cenas.

Até para quem não é fã prévio da franquia, o roteiro de Pete Goldfinger e Josh Stolberg pode soar como previsível demais, mesmo contando com bons momentos (alguns aleatórios, outros que surgem como nítidas homenagens à história de Jigsaw), antes das revelações propriamente ditas. Basta manter-se atento durante a narrativa, para conseguir juntar as peças do quebra-cabeça, até com certa – e inesperada – facilidade.

Por falar nisso, é justamente quando o longa se aproxima de seu final, que consegue encontrar seu melhor ritmo, saindo da aparente intenção de se realizar algo que pudesse agradar a gregos e troianos – ou, nesse caso, ao público que já conhece as maquinações de Jigsaw e aos que terão “Espiral – O Legado de Jogos Mortais” como ponto de partida nesse mundo sinistro.

Resta saber até que ponto – e se – a demora em encontrar sua própria personalidade será determinante para a realização de um novo capítulo, já que a conclusão do filme deixa (óbvias) margens para isso.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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