Crítica: “Ritual Maldito”

Nas profundezas de São Petersburgo se esconde um artefato sombrio, que evoca temor no coração daqueles que ouviram falar. Atakan é seu nome, uma enorme pedra de granito, onde, em tempos antigos, sacrifícios humanos eram feitos dedicados a divindades hoje esquecidas.

Por muito tempo, vários acreditaram que não passava de uma lenda, porém não para Nora (Ksenia Plyusnina) cujo avô afirmava ter encontrado tal objeto, munindo-a com um mapa para levá-la até o sinistro altar. Ela, e um grupo de amigos, liderados por seu jovem professor Dmitry Mitin (Vladimir Kuznetsov) decidem por desbravar os caminhos até o objeto, no entanto, uma vez sob o poder deste só a morte pode triunfar.

Esta é a trama de “Ritual Maldito” (Atakan) da diretora Aleksandra Radushinskaya, que explora tanto o sobrenatural russo, quanto o horror dos experimentos soviéticos, algo que somente uma produção russa poderia com uma profundidade sem parecer uma diminuição deste país.

Neste ponto, é interessante ver filmes de terror que não sejam de origem anglo-estadunidense, pois exploram temas que estes normalmente passam longe, e quando abordados, é comum que sejam para tratar outros povos como atrasados, supersticiosos ou monstruosos – algo comum até mesmo fora do cinema, como na literatura por exemplo.

Ainda assim, a trama é um tanto clichê: um grupo de estudiosos/documentaristas/aventureiros parte em busca de um artefato/povo/local e tem seus integrantes mortos um a um de maneiras cada vez mais horrendas. O grande problema não vem da repetição destes padrões, mas sim de que não é um longa que conduz bem a história, falha em construir tensão na maior parte do tempo, e as mortes quando vêm, não deixam aquele choque no mesmo nível que em outros assim. Além disso, faltam mais “jump scares”, aqueles sustos que fazem você saltar da cadeira, e que nunca pensei que iria reclamar que tem poucos em algum filme.

Outra coisa diferente é sua fusão de técnicas narrativas, misturando filmagem tradicional com o de “filmagens perdidas” (found footage). Elemento interessante, e que pode ser usado para sobrepor diferentes narrativas que se interconectam. No entanto para “Ritual Maldito”, a mistura não cai tão bem, e poderia ser muito favorecida por se ater a apenas uma forma, pois acaba se tornando confusa a alternância entre os dois, o que afeta a construção da tensão.

Uma coisa da qual não posso reclamar, no entanto, é a ambientação e iluminação, os únicos elementos que realmente criam tensão. O longa usa na maior parte das cenas somente luz natural, apenas quebrando isto em poucas cenas, e geralmente nestas, a luz que emana traz tons sinistros e estranhos. O ambiente claustrofóbico e labiríntico também é impressionante e combina muito bem com os temas. O terceiro elemento que merece destaque e que, como músico, devo elogiar, é a trilha sonora mínima, composta de sons que se misturam ao ambiente, pouco tendo grandes picos, algo que muitos outros deste gênero poderiam aprender, pois pesam a mão.

“Ritual Maldito” não é ruim, mas poderia ser bem melhor. É indicado para que fãs de terror possam explorar produções russas, e descobrir mais sobre o que há fora da bolha de influência americana/inglesa.

por Ícaro Marques – especial para A Toupeira

*Verifique a disponibilidade nas plataformas: NOW, Looke, Vivo Play, Apple TV, Microsoft e Google Play.

** Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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