“Não importa o quão sozinho ou deslocado alguém se sinta: a magia está em todos os lugares. É só saber onde procurar”. A afirmação é feita logo no início de “Clifford – O Gigante Cão Vermelho” (Clifford – The Big Red Dog) e é esse pensamento que o espectador precisa ter para aproveitar toda grandiosidade (literal e emocionalmente falando) da aventura que chega aos cinemas brasileiros.
A trama dirigida por Walt Becker gira em torno do encontro do adorável cachorro do título com Emily Elizabeth Howard (Darby Camp), jovem que vive com sua mãe Maggie (Sienna Guillory), em Nova York. Bolsista em um colégio particular, a menina de classe média é vítima de bullying por parte dos alunos mais abastados, que a tratam como alguém inferior por sua renda familiar.
Tal fato faz com que Emily sinta-se como uma peça que não se encaixa em um quebra-cabeça, não conseguindo formar laços de amizade (sempre tão importantes, em qualquer etapa da vida), mas sem deixar de ser gentil com aqueles que a cercam. Sua vida muda quando a mãe precisa viajar a negócios e ela fica aos cuidados de seu tio Casey (Jack Whitehall), cuja simpatia é proporcional ao fracasso profissional e pessoal – embora seja um talentoso ilustrador.
Diz uma frase (cuja autoria eu desconheço): “Quando mais precisei de uma mão, a vida me deu uma pata”. É o que acontece quando uma misteriosa tenda de adoção de animais é montada próximo ao colégio de Emily e ela conhece o Sr. Bridwell (John Cleese), cujo nome remete a Norman Bridwell (autor da série de livros iniciada em 1963, na qual o filme se baseia), e que parece ser uma espécie de salvador de animais abandonados.
A magia se dá no momento em que Emily encontra Clifford, um pequenino filhote cujos pelos vermelhos lhe dão um aspecto diferente dos demais. O cãozinho foi deixado para trás (não propositalmente) quando sua mãe e irmãos são resgatados e levados para um abrigo local, mas acaba sendo salvo pelo Sr. Bridwell – e isso era o melhor que poderia lhe acontecer.
Da noite para o dia, Clifford cresce muito além do que se poderia imaginar e se transforma em um cachorro de 3 metros de altura, mas com a alma (e as trapalhadas) de um filhote, o que significa muita confusão, mas também muitos sorrisos, tal qual somente um animalzinho é capaz de nos proporcionar.
Mas nem tudo são caudas balançando ou brincadeiras de bola: quando Peter Tieran (Tony Hale), um rico empresário do ramo de alteração genética, fica sabendo da existência do gigante cão vermelho, ele fará de tudo para levá-lo para ser estudado em seu laboratório – o que significa que a vida de Clifford está em risco.
É lindo acompanhar a jornada de Emily, Casey e Owen (Izaac Wang) – primeiro amigo que a jovem faz no colégio – para manter Clifford em segurança, mesmo que, para isso, seja necessário abrir mão de algumas coisas importantes. São momentos que devem tocar, em especial, os corações de quem já teve a sorte de conviver com algum animal e sabe o quanto eles modificam e engrandecem nossas trajetórias, apenas por estarem conosco.
Quem aceitar como viável a ideia de haver um cachorro que ficou gigante graças ao amor imenso e sincero de uma criança, terá a chance de aproveitar melhor os 97 minutos de duração do longa, durante os quais muita coisa legal / comovente acontece em tela. Destaque para a sequência que mostra uma consulta no consultório do veterinário interpretado por Kenan Thompson, e para o momento em que Clifford percebe que seu tamanho pode ser um problema e tenta “ficar pequeno”.
A agradável trilha sonora conta com várias faixas que têm tudo para agradar o público jovem, incluindo o tema original “Room for You”, de Madison Beer; a contagiante “Dynamite”, do grupo BTS; e “Boggie Feet”, da cantora Kesha (feat. Eagles of Death Metal).
O roteiro de Jay Scherick e Blaise Hemingway é tão simples, quanto mágico. Assim como as histórias originais em forma de livros, e a série animada para televisão que já tiveram o querido cachorro e sua melhor amiga humana como protagonistas.
“Clifford – O Gigante Cão Vermelho” é daquele tipo de filme que nos deixa com um sorriso no rosto do início ao fim (ainda que com algumas – muitas – lágrimas no meio do caminho), e que se faz necessário de vez em quando, para nos lembrarmos de como é importante respeitar o que nos parece diferente e que, apesar de quase tudo e quase todos, ainda faz bem acreditar na magia da amizade.
por Angela Debellis
*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.
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