Crítica: “A Babá: O Chamado das Sombras”

A riqueza e diversidade de lendas folclóricas ao redor do mundo seguem sendo excelentes / inesgotáveis fontes, nas quais muitas produções se baseiam para recriar histórias fantásticas nas telonas – e isso pode render todo tipo de resultado.

A personagem da vez, Baba Yaga, faz parte do folclore eslavo e, embora sua origem oficial a mostre como alguém com personalidade ambígua – que tanto pode prejudicar, quanto ajudar -, em “A Babá: O Chamado das Sombras” (Yaga. Koshmar tyomnogo lesa), ela surge na representação de uma bruxa que habita a fronteira entre o nosso mundo e o mundo dos mortos e se alimenta da alma de crianças.

Para conseguir realizar tal feito, conta com lacaios conhecidos como Navs, cuja aparência é um híbrido de humano e pássaro. Estes são responsáveis pelo sequestro e condução das crianças até a antagonista. Os desaparecimentos tornam-se literais, com as vítimas sendo esquecidas pelas demais pessoas e tendo qualquer vestígio de sua existência apagado desta realidade.

Tal fato acontece com a pequena Varya, meia-irmã caçula de Egor (Oleg Chugunov), um pré-adolescente que se vê deslocado da atual situação vivida por ele, na qual, após a morte de sua mãe, passa a morar com o pai Alexey (Aleksey Rozin) e a madrasta Yuliya (Maryana Spivak).

A chegada da enigmática babá Tatyana (Svetlana Ustinova) traz consequências impensáveis à já estremecida relação do garoto com sua família. Inexplicavelmente, embora sua irmã tenha sido levada para Baba Yaga, Egor mantém as lembranças de Varya e fará de tudo para trazê-la de volta em segurança – mesmo que tenha que enfrentar o desconhecido e todos os horrores que isso possa lhe causar.

Nessa inesperada missão, o protagonista contará com a providencial ajuda de sua vizinha Dasha (Glafira Golubeva) e do valentão da escola – entenda-se praticante de bullying – Anton (Artyom Zhigulin). O trio sairá em busca de informações que poderão levar a tal fronteira onde a bruxe vive, para que tentem salvar a bebê.

Dirigido por Svyatoslav Podgaevskiy (que também assina o roteiro junto a Natalya Dubovaya e Ivan Kapitonov), o longa russo tem pontos de destaque como o bom uso de filtros monocromáticos (em especial os de tons alaranjados), que ajudam a criar o incômodo visual necessário nos espectadores.

Também é válida a opção por efetivamente mostrar a figura de Baba Yaga apenas nos momentos mais cruciais da trama – o que poderia ser um erro, mas acaba tornando-se uma boa jogada na tentativa de manter o interesse.

Como os trabalhos anteriores que já vi do diretor, este também tem alguns pontos menos favoráveis, como as atuações medianas (mas que não chegam a prejudicar o andamento da narrativa) e o baixo orçamento (o que fica bem visível em determinada sequência que mostra uma discussão entre Egor e Alexey).

Embora não ofereça grandes sustos, com 97 minutos de duração, “A Babá: O Chamado das Sombras” conta com bons momentos de tensão, principalmente quando a vilã sobrenatural é vista (mesmo que sua aparência em nada lembre a figura na qual é baseada, a profusão de fios vermelhos em tela ajuda a causar uma sensação “sufocante”). Afinal, lendas perigosas são interessantes até que você esteja em frente a uma delas.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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