Crítica: “A Última Noite”

Há quem enxergue, até com naturalidade, certa dicotomia na época natalina. Como se a alegria proporcionada pelas festividades encontrasse seu complemento no quadro depressivo que alguns desenvolvem, devido aos mesmos elementos temáticos.

É apostando em tal dualidade que “A Última Noite” (Silent Night) chega aos cinemas com a proposta de contar uma história que mescla suspense a momentos cômicos e dramáticos. O resultado da trama escrita e dirigida por Camille Griffin é um filme, no mínimo, surpreendente.

Toda a ação se passa no interior da Inglaterra, na residência de Nell (Keira Knightley) e Simon (Matthew Goode), onde o casal vive com seus três filhos, Art (Roman Griffin Davis), Hardy (Hardy Griffin Davis) e Thomas (Gilby Griffin Davis). O local será palco de uma reunião de amigos de muitos anos – e seus respectivos pares – para passarem a véspera de Natal.

O que poderia ser conteúdo para mais uma, entre tantas obras natalinas que normalmente são lançadas no mês de dezembro, ganha ares diferentes quando descobrimos que há mais do que apenas a vontade de confraternizar entre pessoas queridas. A última noite do título é, literalmente, a derradeira – e não só para esse grupo específico.

Isso se deve ao fato de que todas as formas de vida do planeta estão sendo dizimadas por uma espécie de nuvem gigante formada por um gás tóxico de origem inexplicada, que acomete todos os continentes e da qual é impossível fugir.

De revolta da natureza a boicotes políticos, várias são as explicações buscadas para tentar entender (mas não aceitar) o destino que bate à porta dos personagens. A única certeza é que na manhã seguinte, o ar se tornará irrespirável e será o causador de uma morte bastante dolorosa, cujos detalhes são descritos no longa.

A fim de evitar tal sofrimento desnecessário, o grupo decide tomar pílulas fornecidas pelo governo do Reino Unido (a pessoas mais abastadas, diga-se de passagem), que provocam a morte quase que de maneira imediata. O que não se esperava era que dois integrantes decidiriam – cada qual por razões particulares – não ingerir a droga, o que acaba por desestabilizar o plano que, embora macabro, não deixa de ter valor.

Com os motivos estabelecidos, a história que se passa durante as horas que antecedem a chegada da nuvem intercala momentos de tensão, com outros em que é possível esboçar sorrisos e, até mesmo emocionar-se (talvez seja a magia de Natal, quem sabe?).

O destaque entre as interpretações, que no geral estão de acordo com o que o roteiro propõe, fica para Roman Griffin Davis, jovem ator que ratifica a cada produção que participa, a qualidade de seu trabalho.

Embora a premissa de “A Última Noite” pareça simples, há uma eficaz reviravolta em seus momentos finais, o que ajuda nas reflexões que vão surgindo durante os 90 minutos de duração, quando questionamentos sobre família, amigos, segredos e ambições são postos à mesa e conseguem o feito de atingir o público que assiste ao filme.

Vale conferir.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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