Crítica: “Delicioso – Da Cozinha para o Mundo”

Grandes ideais podem surgir em momentos de adversidade e, mesmo que haja receio em colocá-las em prática, não há como negar o quanto é gratificante vê-las tornarem-se realidade.

Assim acontece com Pierre Manceron (Grégory Gadebois), cozinheiro oficial do Castelo do Duque de Chamfort (Benjamin Lavernhe), protagonista de “Delicioso – Da Cozinha para o Mundo” (Délicieux), longa francês dirigido por Éric Besnard (que também assina o roteiro junto a Nicolas Boukhrief), cuja narrativa se passa durante o nascimento da Revolução Francesa em 1789, poucos meses antes da Queda da Bastilha.

Tencionando dar um toque de criatividade ao cardápio ofertado durante um jantar promovido pelo Duque a outros nobres da região, Manceron inclui uma criação original entre os pratos. Inicialmente apreciado pelos convidados, logo o quitute tem sua qualidade posta em xeque com a desaprovação de um membro da igreja, cuja postura à mesa e para com o cozinheiro pouco lembra o que se espera de alguém em sua posição.

Ao se recusar a pedir desculpas (mesmo porque não fez nada de errado), o protagonista é demitido e abandona o castelo com filho, Benjamin (Lorenzo Lefèbvre) – este com ideias revolucionárias para a época, provavelmente advindas de sua juventude e seu gosto pela leitura.

Junto ao veterano Jacob (Christian Bouillette), amigo de longa data da família, a dupla coloca em funcionamento uma antiga estalagem, onde começa a oferecer refeições simples a viajantes. Logo surge Louise (Isabelle Carré), jovem senhora que visa ser aprendiz de cozinheira – coisa impensada em tempo no qual, nas palavras do próprio Manceron, “cozinhar é uma coisa para homem”.

Nesse improvável cenário e com um quarteto que pouco tem em comum, inicia-se um processo de criação de algo inédito que, conforme ganha corpo, torna-se o que seria o primeiro restaurante com ares próximos ao que conhecemos hoje em dia.

Tal progresso é mostrado com detalhes, inclusive no que diz respeito à criação / execução de pratos – o que significa que entre belas iguarias, há algumas cenas incômodas envolvendo o manuseio de animais advindos de caça, que servem como base para itens do cardápio.

Nesse meio tempo, o desejo de Marceron retornar ao castelo (uma vez que ainda se sente preso ao fato de ter servido ao nobre por tantos anos) e o passado obscuro de Louise (que, uma vez trazido à luz, torna-se ponto importante da história) fazem com que as coisas não corram exatamente de maneira linear e ajudam a dar ritmo ao filme.

Em 112 minutos de duração, “Delicioso – Da Cozinha para o Mundo” faz jus ao nome e se mostra uma produção fácil de assistir e se envolver. Personagens carismáticos que conquistam a simpatia do público e um deleite visual para os que creem que uma boa refeição já começa a ser aproveitada através de um visual atraente são os melhores ingredientes para um resultado que vale a pena ser conferido em tela.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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