Crítica: “Exorcismo Sagrado”

Muito se fala (na maioria das vezes em tom de crítica negativa) sobre a tentação absoluta de se cair em clichês em obras cinematográficas, em especial quando se tratam de títulos de terror e/ou suspense.

Acontece que, de tempos em tempos, determinado assunto amplamente abordado pelas incontáveis películas já concebidas, é trazido de volta à luz. O que significa que parte do que foi visto antes e que tenha alcançado o mínimo de sucesso com o público, corre o sério risco de ser utilizado mais uma vez em tela.

E isso não precisa, necessariamente, ser ruim, quando feito com parcimônia. É o caso de “Exorcismo Sagrado” (The Exorcism of God), cuja narrativa gira em torno de um ritual realizado em 2003, na cidade mexicana de Nombre de Dios, durante o qual, o bem intencionado / inexperiente Padre Peter Williams (Will Beinbrinck) comete um terrível sacrilégio envolvendo Magali Velasquez (Irán Castillo), a jovem possuída.

As consequências de tal ato se farão sentir 18 anos depois, quando o agora veterano sacerdote – tido como uma espécie de “santo” na comunidade, por suas ações de caridade e benfeitorias com os moradores locais – precisará encarar os perigos de uma nova possessão demoníaca de uma presidiária de nome Esperanza (María Gabriela).

Embora o tema pareça batido, logo se percebe que ainda há muito que se explorar. Tal afirmação é feita com base em um elemento com ares de ineditismo, responsável por um dos melhores momentos do longa: uma espécie de “exorcismo reverso”, com direito à declamação de frases de ordem demoníaca para combater o tradicional discurso proferido por padres que tencionam expulsar entidades malignas dos corpos de pessoas inocentes.

Tal decisão original faz com que o roteiro de Santiago Fernández Calvete e Alejandro Hidalgo (este, também à frente da direção) tenha que caminhar sobre uma corda bamba, ora pendendo para exageros desnecessários, ora mostrando que a ousadia é bem-vinda no que diz respeito à entrega de boas sequências – incluindo, ou não, jump scares.

Se o protagonismo é do Padre Peter, quem merece destaque é seu superior, Padre Michael Lewis (Joseph Marcell), que mescla a seriedade que o tema necessita a ótimas tiradas que servem como alívios cômicos conscientes.

Não são apenas cenas mal feitas que causam riso inapropriado no público. O texto consegue, de maneira muito sagaz, rir do que poderiam ser consideradas suas maiores fraquezas, incluindo as inevitáveis comparações com outras produções do gênero.

A mistura faz com que, no geral “Exorcismo Sagrado” funcione. Se não chega ao patamar de um filme memorável, também está longe do desastre, inclusive, por seus momentos finais, que trazem ainda mais à tona, pertinentes críticas sobre o que pode acontecer nos bastidores das igrejas católicas sob a anuência de seus altos integrantes.

Vale ressaltar a frase de encerramento da produção, cujo impacto de cada palavra me parece forte o bastante para torná-la verdadeiramente assustadora.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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