Crítica: “Adeus, Idiotas”

Classificado como comédia, “Adeus, Idiotas” (Adieu les cons / Bye Bye Morons) – que chega aos cinemas brasileiros com distribuição da Polifilmes / Mares Filmes – tem várias passagens divertidas, em especial no que diz respeito ao humor irônico que permeia boa parte dos diálogos.

Mas, o roteiro de Albert Dupontel (que também atua como diretor e um dos protagonistas), Marcia Romano e Xavier Nemo brilha de verdade quando envereda para o lado dramático, que ganha o coração do público de vez.

A trama, que tem a França como cenário, gira em torno da cabeleireira Suze Trappet (Virginie Efira), que, frente a um diagnóstico terminal, decide procurar pelo filho que abandonou – por imposição de seus pais – há 28 anos, após uma gravidez inesperada, fruto de um relacionamento passageiro, quando tinha apenas 15 anos.

Na batalha contra a burocracia e o tempo, ela contará com a improvável ajuda de Jean-Baptiste Cuchas (Alberte Dupontel), técnico de TI de meia-idade que trabalha na área de segurança do Departamento de Saúde e vê sua competência profissional ser ignorada com a contratação de funcionários mais jovens (afinal, pelo que parece, hoje em dia apenas a idade é relevante em várias camadas sociais e /ou profissionais).

Uma atitude desesperada e malsucedida faz com que a dupla una forças para buscar pistas sobre o paradeiro do filho perdido de Suze. Tal caminho os leva ao arquivista Serge Blin (Nicolas Marié), que também se mostra disposto a ajudar, não fosse por um pequeno detalhe: ele tornou-se deficiente visual, devido a uma ação equivocada da polícia – o que faz com que ele tenha verdadeiro pavor da corporação.

Toda narrativa se passa em questão de horas, o que dá um ritmo bastante ágil ao longa que consegue unir cada ponta solta com sucesso, em 87 minutos de duração. Ainda que não se aprofunde nos fatos (o que não seria necessário, pelo modo como são apresentados em tela), “Adeus, Idiotas” mostra-se extremamente habilidoso em contar o que é necessário para fazer com que o espectador se apegue a cada personagem sem dificuldade.

Entre diversos pontos a serem destacados, três frases permaneceram em minha mente, mesmo quando a exibição chegou ao fim – duas ditas por Cuchas e uma por Blin:

“Estar arrasado não significa que somos loucos”.

“Adaptar-se a um mundo de loucos não é um triunfo” – (esta me parecendo uma boa versão para a afirmação do filósofo indiano Jiddu Krishnamurti: “Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente”).

“Muito clique. Pouca conexão”.

por Angela Debellis

Comments are closed.