Crítica: “Lightyear”

Foram necessários 27 anos para que pudéssemos viajar “Ao Infinito e Além” e sentir uma emoção próxima a do garotinho Andy, quando ganhou o boneco de ação de Buzz Lightyear, protagonista de seu filme favorito, em 1995. E que bom que tivéssemos essa oportunidade.

A trama de “Lightyear”, nova aposta da Disney e Pixar, gira em torno da tentativa do patrulheiro do Comando Estelar, Buzz Lightyear (voz de Chris Evans, no original e Marcos Mion, na versão brasileira), de retornar ao lar, após uma missão de reconhecimento fracassada em T’Kani Prime, um planeta hostil a 4,2 milhões de anos-luz da Terra.

Para ajudá-lo, ele conta com a Comandante Alisha Hawthorne (voz de Uzo Aduba / Adriana Pissardini), que, mais do que companheira de trabalho, é sua melhor amiga, e tem um papel fundamental quando Buzz coloca em dúvida sua capacidade como patrulheiro ou  assume um fardo maior do que o que seria justo, pelo fato de culpar-se por toda tripulação estar presa ao planeta, após um erro seu.

Acompanhar as etapas dessa amizade tão especial e saber que sua contraparte em forma de brinquedo também conquistou um amigo que sempre “esteve lá por ele”, fez meu coração transbordar de agradecimento a Jason Headley, Angus MacLane, John Lasseter e Andrew Stanton, diretores e roteiristas de “Lightyear” e “Toy Story”, respectivamente.

Em uma decisão certeira, a odisseia do protagonista ganha o tom preciso de um excelente filme de ficção científica espacial – com direito à sempre temida passagem de tempo diferenciada para astronautas que viajam em altas velocidades, responsável pelas sequências mais emocionantes da produção.

Nessa jornada, surge a Patrulha Zap Júnior, formada por Izzy Hawthorne (voz de Keke Palmer / Flora Paulita), Darby Steel (voz de Dale Soules / Lúcia Helena Azevedo) e Mo Morisson (voz de Taika Waititi / Henrique Reis), cuja boa vontade em ajudar é proporcionável à total falta de habilidade para fazê-lo. Ver o metódico e exigente Buzz tendo que trabalhar ao lado do inusitado trio é divertido e inspirador – ainda que haja momentos tensos – exatamente como são as melhores relações que desenvolvemos em nossas vidas.

Mais uma vez, Disney e Pixar acertam, ao criar em coadjuvante que rouba a atenção em todas as cenas – não só por sua fofura extrema, mas pela importância de suas ações. Sox (voz de Peter Sohn / César Marchetti) é uma espécie de inteligência artificial que deveria servir como apoio emocional a Buzz, mas que acaba sendo muito mais, graças aos seus variados talentos. Tudo isso, na forma de um adorável gatinho, com todo charme e graça característicos dos felinos em geral.

E se estar preso em um planeta repleto de perigos já não fosse ruim o suficiente, ainda há espaço para a participação de um vilão, cuja convincente história de origem, para mim, foi muito surpreendente: o Imperador Zurg (voz de James Brolin). O personagem que também se fazia presente nas brincadeiras de Andy, visto pela primeira vez em “Toy Story 2”, não mede esforços para conseguir tirar de Buzz, o elemento que poderia trazer o astronauta e sua tripulação de volta para casa: uma cápsula de combustível capaz de fazer sua nave atingir a hipervelocidade.

Com a parte da ficção científica estabelecida, “Lightyear” também se mostra um título de ação e aventura apto a conquistar não só quem gostaria de conhecer a história do homem que inspirou a criação do famoso boneco de ação, mas também quem terá o longa como ponto de partida para, quem sabe, entrar no mundo em que os brinquedos ganham vida quando não há pessoas por perto.

Em 1972, com o lançamento da música “Starman” – que pode ser ouvida em partes, no trailer oficial da animação – David Bowie afirmou: “Há um homem das estrelas esperando no céu… Ele disse para não estragarmos tudo, porque ele sabe que tudo vale a pena”. Não sei se tudo no universo realmente vale a pena, mas assistir a “Lightyear”, com certeza vale cada segundo.

Imperdível.

por Angela Debellis

*Texto publicado originalmente no Site A Toupeira.

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