Crítica: “Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída”

Depois de 40 anos de seu lançamento retorna aos cinemas brasileiros – em uma versão remasterizada – o polêmico “Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída” (Christiane F. – Wir Kinder vom Bahnhof Zoo), do diretor alemão Uli Edel. E, definitivamente, após tantos anos de sua estreia, continua impactante.

Baseado no livro de mesmo nome, o longa acompanha a história de uma jovem de 13 anos chamada Christiane (Natja Brunckoust), que está descobrindo os prazeres e receios da adolescência no fim dos anos 1970, no meio de uma Alemanha afundada por uma onda de drogas pouco conhecidas na época.

A remasterização não tira a qualidade do filme de época. Aqui, as cores mantêm aquele aspecto de títulos cult mas com um toque renovado. E a música, que tem a assinatura do incrível camaleão David Bowie, também preserva aquele toque de som saindo de um toca disco.

A temática sobre uso de drogas é o cerne da narrativa. Toda a ambientação de uma Alemanha industrialista pós-queda do muro de Berlim é muito bem retratada. A sonografia – que é toda focada na trilogia alemã de David Bowie da época – preenche todos os cantos com uma letra sobre amor, rebeldia e liberdade, dando o impulso necessário para compreender a mente dos jovens daquela década.

Claro, que o espetáculo está todo montado em volta de Christiane, com seu desenvolvimento muito bem incorporado no roteiro, mostrando que não é necessário estar em um núcleo familiar problemático para se perder em meio ao vício das drogas.

O ponto que pode parecer mais problemático é justamente o que trata sobre vida particular da protagonista, uma vez que a produção não demonstra se há alternativas para que a mesma possa estar livre ou tenha outros caminhos que não a levem para o uso. Em dado momento, sabemos que a garota frequenta escola e outros lazeres, mas nada disso é abordado de forma mais aprofundada.

Porém, essa opção do roteiro – que incorpora a vida personagem como um caminho sem volta para a perdição – é a chave para tornar o drama biográfico muito polêmico e desconcertante. A escolha de uma atriz, na época, amadora (assim como todo o elenco, em exceção do Bowie) deixa a história com uma aparência ainda mais realista.

No fim, “Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída”, é necessário para qualquer cinéfilo, por sua abordagem não só sobre o primeiro contato com a heroína, mas a dependência, a dor e a perda a que esta e outras drogas podem levar. E a chance de ver isto no cinema, com uma qualidade de última geração, é imperdível.

por Artur Francisco

*Texto publicado originalmente no Site A Toupeira.

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