Crítica: “Boa Sorte, Leo Grande”

Apresentando diálogos afiados, carregados de dramaticidade e humor na mesma proporção, “Boa Sorte, Leo Grande” (Good Luck to You, Leo Grande) faz a sua estreia se mostrando uma das melhores comédias do ano, fugindo do pastelão convencional e apostando na difícil narrativa de apontar questões sociais relacionadas à sexualidade de forma descontraída e inteligente.

Na trama, acompanhamos Nancy (Emma Thompson), uma professora aposentada de 55 anos que nunca teve experiências sexuais realmente empolgantes. Seu falecido marido, até então, tinha sido seu único parceiro e este sempre se mostrou conservador quando o assunto era relacionado a sexo.

Buscando uma nova abordagem, Nancy contrata os serviços de Leo Grande (Daryl McCormack), um profissional do sexo gentil e educado, que além de trabalhar com assuntos relacionados a prazeres carnais, também se mostra um bom ouvinte. Por meio dele, vamos descobrindo outros aspectos na vida da protagonista.

Semelhante ao que foi feito na excepcional “trilogia do antes” estrelada por Ethan Hawke e Julie Delpy, a diretora Sophie Hyde constrói sua trama baseada unicamente nos diálogos entre os protagonistas, porém aqui descartando uma grande variedade de localidades (basicamente o filme todo se passa em um quarto) e apostando na atuação dos atores para tornar tais personagens críveis e curiosos o suficiente aos olhos do público.

Com isso em mente, é possível afirmar que a diretora teve êxito em sua construção: ambos os personagens são extremamente carismáticos e a química entre eles, assombrosa.

O roteiro do longa se mostra muito corajoso em dialogar abertamente sobre questões relacionadas à sexualidade feminina e como ela é anulada e até “demonizada” em determinados núcleos. O filme trata toda essa temática com muito humor sem perder a dramaticidade e profundidade que o tema pede.

A atuação da Emma Thompson está perfeita como sempre e consegue transmitir com maestria os sentimentos conflitantes de uma personagem que, em certos momentos, apresenta uma arrogância típica de uma pessoa mais velha frente a juventude, e em outros demonstra a fragilidade e a insegurança de alguém que busca novas experiências, mas teme fracassar.

Não é fácil dividir tela com uma atriz tão talentosa, ainda mais em um filme todo pautado em diálogos e atuação pura. Porém, Daryl McCormack surpreende e nos entrega um personagem carismático e intrigante, interessante e intenso a ponto de não ser ofuscado pela sua parceira de tela mais experiente.

“Boa Sorte, Leo Grande” é uma grata surpresa, provavelmente é uma das melhores comédias do ano, abordando temas delicados com profundidade e carisma, garantindo ao espectador a dose certa de momentos reflexivos e muitas gargalhadas.

por Marcel Melinski

*Texto publicado originalmente no Site A Toupeira.

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