Crítica: “Sombras de um Crime”

Gêneros cinematográficos podem alternar em graus de popularidade, novos subgêneros podem surgir, mas uma coisa é certa: narrativas de detetives em estilo noir nunca vão perder seu charme.

O mais novo título a figurar dessa lista é “Sombras de um Crime” (Marlowe) que, sob a direção de Neil Jordan, ganha as telas tendo como base um livro de 2014, “A Loura dos Olhos Negros: Uma Aventura de Philip Marlowe”, de autoria do escritor norte-americano, Benjamin Black (pseudônimo do autor John Banville). A obra traz de volta o personagem criado em 1939 pelo romancista / roteirista Raymond Chandler – falecido em 1959 e importante nome no que diz respeito a romances policiais modernos

A trama se passa na cidade americana de Bay City e gira em torno do detetive particular Philip Marlowe (Liam Neeson). O veterano de guerra / ex-policial é procurado em seu escritório pela enigmática Clare Cavendish (Diane Kruger) e assume a incumbência de encontrar Nico Peterson (François Arnaud), amante da misteriosa cliente.

O caso que começa como um desaparecimento, supostamente voluntário, logo evolui para um assassinato com envolvimento de pessoas cuja riqueza que equipara ao poder que exercem na sociedade americana dos Anos de 1930.

É essa crescente de acontecimentos que molda a narrativa escrita por William Monahan (junto ao diretor Neil Jordan) e que tem como pontos altos o entrosamento de Marlowe e a milionária Dorothy Quincannon (Jessica Lange). A ex-estrela de Hollywood / mãe de Claire / mostra que a aura de sedução e mistério são de família e torna-se uma das figuras mais interessantes em tela.

Mas, é possível inserir cenas de ação bruta (entenda-se brigas com direito a muitos socos e cadeiradas) em um filme noir, sem perder a elegância? A resposta é sim, o que significa que os fãs de Liam Neeson terão o que o ator faz de melhor – ainda que em determinado momento, seu personagem afirme, com convicção, “não ter mais idade para esse tipo de coisa”.

Também vale destacar a interação do protagonista e Bernie Ohls (Colm Meaney), policial sem meios-termos que enriquece a investigação com seu jeito direto de agir. Assim como a ótima participação de Cedric (Adewale Akinnuoye-Agbaje) – motorista de Lou Hendricks, magnata arrogante (vivido por Alan Cumming) – de grande importância nos momentos cruciais do longa.

Sob a trilha sonora de David Holmes (o quão providencial parece ser o sobrenome desse compositor?) e após 109 minutos de duração, “Sombras de um Crime” entrega um resultado que transita entre o refinado (como se espera desse tipo de produção)e o competente, no que diz respeito ao limite que seria aceitável de ação, sem que se perca o fascínio de uma época em que tudo parecia bem mais atraente – e que é lindamente retratada através da fotografia de Xavi Giménez e dos figurinos de Betsy Heimann.

Vale conferir.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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