Crítica: “Campeões”

Muito se discute hoje em dia, sobre a capacidade de uma obra (seja filme ou série) conquistar o público, caso tenha um roteiro considerado mais “simples”. “Campeões” (Champions) não só prova que isso é possível, como o faz de maneira encantadora.

Dirigido por Bobby Farrelly, o longa é a versão americana da produção televisiva espanhola “Campeones”, de 2018, e tem como protagonista Marcus Marakovich (Woody Harrelson), treinador de basquete que vê sua promissora carreira ser prejudicada pelo temperamento explosivo que tem em quadra.

Após ser demitido de sua função de assistente de técnico de um time da segunda divisão da liga de acesso de Iowa, e com uma suposta chance de atuar na NBA cada vez mais distante, ele acaba dirigindo embriagado e causando uma colisão. O que faz o faz ser condenado a noventa dias de serviço comunitário, durante os quais deverá trainar “Amigos”, um time de basquete composto por jogadores que apresentam variados tipos de deficiência intelectual.

Habituado a não ter relações pessoais com aqueles que o cercam, Marcus precisará entender que a vida é mais do que conhecer habilidades e jogadas. É hora de perceber que quem veste os uniformes são pessoas com universos únicos e peculiares e, por isso mesmo devem ser respeitadas.

A trama se passa basicamente durante o período da pena imposta ao treinador e mostra a evolução de sua convivência com os integrantes do time que, cada um do seu jeito e dentro de suas limitações, será um elemento importante nessa jornada de auto-conhecimento.

Todos os personagens têm histórias estabelecidas, alguns com mais destaque como Johnny (Kevin Ianucci), o jovem ala da equipe, que trabalha no abrigo de animais local e cuja interação com o técnico afetará diretamente o relacionamento com sua irmã Alex (Kaitlin Olson).

Ainda que com um tempo bem menor em tela, um dos relatos que mais me impactou foi o de Darius (Joshua Felder), cujas razões para não querer treinar com Marcus (mesmo sendo o jogador mais habilidoso do grupo) são de partir o coração e nos colocam para refletir não só sobre as nossas, mas sobre as ações de todas as pessoas que vivem em sociedade.

O roteiro de “Campeões” – escrito por Mark Rizzo – se sustenta na simplicidade e isso é absolutamente maravilhoso. Muitas vezes nos perdemos na busca por coisas que estão muito mais perto do que imaginamos e deixamos de enxergar o quão incrível pode ser a vida, quando passamos a considerar cada pequena vitória como uma grande conquista.

E é com a afirmação cantada por Chumbawamba em “Tubthumping” (“Eu fui derrubado, mas eu me levanto novamente. Você nunca vai me deixar para baixo”), que saímos da sala de cinema com a lição de que ser um campeão nem sempre é uma tarefa fácil, mas que o valor do verdadeiro triunfo está em saber que somos capazes de alçar voos muito mais altos do que nos fazem acreditar no decorrer de nossas trajetórias.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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