Crítica: “Meu Vizinho Adolf”

Nem todo mundo conta com a sorte de ter bons vizinhos e, verdade seja dita, com o crescimento desenfreado da população e a necessidade cada vez maior de se erguerem moradias que comportem um grande número de pessoas, isso se torna cada vez mais difícil.

Mas, se a convivência com elementos de educação questionável já é complicada, imagine como você se sentiria, caso descobrisse que seu novo vizinho da casa ao lado é uma das figuras mais execráveis da história mundial.

Este é o ponto de partida de “Meu Vizinho Adolf” (My Neighbor Adolf), produção em conjunto de Colômbia, Israel e Polônia, cuja trama se passa em 1960 e que tem como protagonista Marek Polsky (David Hayman), um polonês sobrevivente do Holocausto que, após a perda de sua família em um campo de concentração nazista, muda-se para um vilarejo na Colômbia.

O (até demais) pacato local também é o escolhido para o recomeço do alemão Herman Herzog (Udo Kier), cuja simples presença já seria problemática para o recluso Sr. Polsky, que não vê com bons olhos o fato de ter um vizinho tão próximo. Tal incômodo se amplifica pela grave desconfiança de que o novo morador é, na verdade, Adolf Hitler – que, supostamente, teria simulado sua morte em 1945, e agora estaria vivendo escondido em terras argentinas.

O roteiro de Leon Prudovsky (que também assume a direção da obra) e Dmitry Malisnky é desenvolvido de maneira inteligente e as dúvidas do protagonista tornam-se nossas também, conforme ele descobre evidências hipotéticas para embasar sua improvável tese.

Tudo graças à sua insistência em provar a que julga ser a verdadeira identidade de seu vizinho, e a uma inesperada aproximação, após um incidente (fato que, para mim, foi um ponto desnecessário / problemático, que talvez pudesse sido executado de outra forma menos drástica e, ainda assim, continuar pertinente).

É o tipo de filme que nos coloca em dúvida até os momentos conclusivos (que, aliás, são a melhor parte desta comédia dramática, quando um ritmo mais ativo, enfim, se estabelece). Se num momento cremos que o cruel ditador está mesmo oculto sob nova identidade, em outro essa certeza cai por terra.

Até que a produção culmina em um final surpreendente, qualquer que tenha sido a conclusão a qual chegamos durante a investigação de Sr. Polsky. De tudo que eu pensei, de todas as conjecturas (plausíveis ou não), confesso que passei longe do que é apresentado ao público.

“Meu Vizinho Adolf” não tem momentos que vão arrancar gargalhadas fáceis dos espectadores (acredito que até pelo fato de envolver o nome de alguém tão condenável em sua narrativa), sendo mais propício a enveredar para o lado emocional em alguns momentos. No geral, o destaque fica para a eficiência na tentativa de prender a atenção de quem espera por respostas às diversas dúvidas paulatinamente plantadas no decorrer de seus 96 minutos de duração.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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