Crítica: “Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1”

O ano era 1996 e a audiência ao redor do mundo segurava a respiração nas salas de cinema, como se qualquer movimentação do público pudesse interferir na ação do protagonista que estava pendurado por cabos (por não poder encostar no piso da sala invadida). Eu me lembro nitidamente da aflição que uma única gota de suor foi capaz de causar.

Vinte e sete anos depois, novamente me vi sentada na ponta da cadeira, perdendo o fôlego, enquanto aquele mesmo homem acelerava sua moto até culminar no salto de um penhasco gigantesco. E percebi que não há nenhum segredo na manutenção de um sucesso tão inoxidável, tudo se dá graças à qualidade e dedicação de quem desenvolve cada um dos capítulos dessa saga. O ator? Tom Cruise. O personagem? Ethan Hunt. A franquia? Missão: Impossível.

Idealizado para ser o primeiro passo para o término das peripécias do agente secreto nas telonas, “Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1” (Mission: Impossible – Dead Reckoning Part One) logo mostra ser muito mais do que apenas isso.

Sim, existe a óbvia preocupação em dar um fechamento digno a uma das mais bem-sucedidas franquias cinematográficas de todos os tempos, assim como há a intenção de fazê-lo de modo a levar os espectadores a uma nova aventura que sabe equilibrar com maestria o que de melhor já foi visto até aqui, com elementos cujo ineditismo traz um bem-vindo frescor à narrativa.

Mais perigoso do que qualquer ameaça anterior, o inimigo da vez não tem rosto e chega na forma de uma Inteligência Artificial, poderosa o bastante para redefinir os rumos da história mundial, caso caia em mãos erradas.

Com uma independência espantosa – mostrando que a participação de antagonistas humanos pode ser menos necessária do que é possível imaginar – a ameaça chamada simplesmente “A Entidade” mostra-se atual (até demais), numa época em que a subordinação tecnológica faz parte da rotina da maioria das pessoas.

Caberá a Ethan Hunt (Tom Cruise) salvar o mundo. Literalmente. Para isso, contará, mais uma vez, com a providencial ajuda de seus companheiros de IMF, Benji Dunn (Simon Pegg), Ving Rhames (Luther Stickell) e Ilsa Faust (Rebecca Ferguson).

Colocar o louvável passado e o promissor futuro andando lado a lado é o maior trunfo do roteiro assinado por Erik Jendresen e Christopher McQuarrie (que também assume a direção). Existe conforto em saber que podemos esperar por cenas grandiosas (e elas estão lá, do início ao fim da produção), mas também há deleite em acompanhar as novidades, sejam na forma de uma narrativa que surpreende por sua temática, ou pelas inéditas participações de figuras que acrescentam qualidade ao que já era bom.

Grace (Hayley Atwell) é uma exímia ladra, que adentra no mundo frenético comandado por Ethan Hunt, de maneira inesperada, e acaba sendo um dos grandes destaques da trama, graças à sua imensa sagacidade e rapidez em adaptar-se às mais controversas situações. Enquanto Paris (Pom Klementieff) surge como uma espécie de misteriosa mercenária, cujas pouquíssimas palavras contrastam com a eficiência de seus movimentos em combate.

Como já é de praxe, a ótima trilha sonora de Lorne Balfe (com a obrigatória inclusão do tema composto por Lalo Schifrin para a série televisiva que serve de base para a saga cinematográfica) e os efeitos especiais assumem os papéis de personagens à parte, contribuindo para a imersão completa na história. Acreditar em altas perseguições de carro, sequências travadas em cima de um trem em alta velocidade ou fugas envolvendo grandes alturas, ao contrário do que prega o título do longa, torna-se uma missão completamente possível.

Com 163 minutos de duração, “Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1” cumpre com eficácia a tarefa de ser a primeira metade de uma extensa obra de encerramento, cuja derradeira parte estreia em 2024. E deixa ainda mais evidente o que, de fato, importa para um filme tornar-se um sucesso.

Tom Cruise fez a escolha. E conseguiu mais uma vez.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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