Crítica: “O Portal Secreto”

Ver o nome “Jim Harrison Company” me remete a dois clássicos dos anos 1980, “Labirinto” e “O Cristal Encantado”, me deixando curioso de qual seria a proposta de “O Portal Secreto” (The Portable Door), já que era uma das empresas responsáveis pelo longa-metragem, mas não a principal.

Na obra temos o azarado Paul (Patrick Gibson), cujas condições de vida nunca permitiram estudo ou trabalho adequado, apesar de sua dedicação. Misteriosamente ganhando uma vaga de emprego numa empresa misteriosa, ele vai descobrindo habilidades jamais sonhadas, enquanto desvenda os mistérios do local que parece capaz de alterar a própria realidade.

O filme é uma comédia de suspense sobrenatural onde, em uma primeira camada, atua como uma fábula sobre os problemas de trabalho, como não saber exatamente o impacto de sua empresa na sociedade, as exigências bizarras da chefe, a personalidade indecifrável da recepcionista, entre outros.

Contudo, a história tece comentários mais profundos, discutindo os dois extremos de como achar um trabalho adequado pode refinar suas habilidades, descobrir mais de suas potencias, ou o extremo oposto, descaracterizando sua identidade até te transformar em mera engrenagem.

A parte mágica é sutil, porém constante, com poderes mágicos e duendes ( goblins no original) ficando cada vez mais evidentes ao longo da trama. Porém, em um sistema coerente, cujas bases nos são apresentadas de maneira discreta logo no início, ficando mais claras à medida que descobrimos o funcionamento da empresa. O próprio título tem três camadas divertidas, de significados ligados à magia, ao longo da narrativa escrita por Leon Ford.

Uma trama de fantasia urbana, isto é, de magia oculta no meio de uma cidade normal, pode ser desenvolvida da várias maneiras, sendo o segredo das mais impactantes um sistema claro de regras mesclado de segredos que explicam o funcionamento da cidade. Contado de forma que cada descoberta funcione como um quebra-cabeça divertido de ser montado, e aqui, isso ocorre com louvor.

Existem claras limitações orçamentárias, especialmente quanto aos efeitos especiais, mas a produção dirigida por Jeffrey Walker é feita com bastante capricho, lembrando um filme família para assistir à tarde na tv, ou um piloto de seriado.

Realmente é um universo rico o suficiente para suportar continuações, explorando novos departamentos, clientes e funcionários da empresa mágica. Sendo uma adaptação da saga literária de Tom Holt, há bastante conteúdo que pode ser desenvolvido em tela no futuro.

Mas não levante ainda! Tem duas cenas pós-créditos que propõem ideias interessantes para continuações sem comprometer o encerramento do filme, que é completo.

“O Portal Secreto” é divertido, sem ser pretensioso. Recomendado para fãs de produções como “Loki”, “Doctor Who” e “The Librarians”.

por Luiz Cecanecchia

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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