Crítica: “O Convento”

Não confundam o filme com a obra homônima de 1995. “O Convento” (Consecration), de 2023 fala de Grace (Jena Malone), uma oftalmologista que investiga o assassinato do seu irmão Miguel (Steffan Cennydd), um padre que trabalhava em um convento onde funciona um grupo quase àparte da Igreja Católica e que o Vaticano também está pesquisando sua real natureza.

História de freiras amaldiçoadas existem como entretenimento pelo menos desde o século 18 e viraram um linha própria no cinema dos anos 1970, o chamado Nunexplotation, com a temática sendo retomada com força nos filmes após o sucesso de “A Freira” (2018), cuja continuação – “A Freira 2” – estreia em breve. A pergunta mais importante é o que a obra tem de diferente com tantas histórias produzidas ao longo desse período.

Aqui não temos um terror de jumps scares (sustos), nem sequências de gore ( sangue explícito abundante), mas uma trama de suspense sobrenatural onde acompanhamos a protagonista analisando o lugar, suas próprias memórias e visões macabras como partes de um grande quebra-cabeça, para entender qual o verdadeiro mistério do convento. Ao mesmo tempo em que entende a real natureza de suas visões, afinal, investigar o passado de seu irmão, também significa explorar suas próprias origens.

Dirigido por Christopher Smith (que também assina o roteiro, junto a Laurie Cook), “O Convento” tem um ritmo lento, o que, somado a fatores anteriores e ao baixo orçamento, vai desagradar quem busca mais um filme de assombração ou demônios tradicional, especialmente quem for pensando no Invocaverso. Já aquele que procurar uma obra de investigação, quase um jogo de detetive, e gostar de cenas mais oníricas, que brincam com a visão da realidade, pode se divertir, ampliando depois a experiência, ao caçar as suas referências.

No caso, uma das minhas favoritas é a história da Cobra de Bronze que aparece na Bíblia (Números capítulo 21 versículo 8): a narrativa de uma cobra de metal construída a mando de Deus no deserto, sendo capaz de curar qualquer um que olhasse para ela. Contudo, as pessoas passam a cultuar a serpente como divindade, fazendo com que os sacerdotes posteriormente a destruíssem.

Essa história não é falada claramente, mas sim reimaginada dentro do filme (afinal, estamos falando no filme de um grupo quase secreto da igreja que reinterpreta certas questões).

Talvez um dos maiores méritos de “O Convento” seja seu tamanho, de pouco mais de 90 minutos, em uma onda de títulos que parecem competir para ver qual é o mais desnecessariamente longo.

Assim, caso goste de mistérios de inspiração religiosa e não tenha problemas com as limitações apontadas, pode assistir de forma certeira.

por Luiz Cecanecchia

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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