Crítica: “Besouro Azul”

Depois de dez anos, o Universo DCEU como conhecemos está chegando ao fim. Sem ostentar o peso da responsabilidade de títulos estrelados por personagens do alto panteão sobre as costas, o penúltimo filme antes do reboot das adaptações baseadas nos quadrinhos da DC Comics chega aos cinemas.

“Besouro Azul” (Blue Beetle) é a história de origem do herói que tem como terceiro representante / hospedeiro, Jaime Reyes (Xolo Maridueña). Recém-graduado, ao retornar para a casa dos pais – localizada na fictícia cidade americana de Palmeira City – o jovem mexicano terá sua pacata rotina virada do avesso, devido a problemas financeiros que colocam a estabilidade da família em risco.

Tentando ajudar, ele sai em busca de trabalho, mas sua falta de experiência faz com que os planos de conseguir dinheiro imediato não saiam como esperado. Até que surge Jenny Kord (Bruna Marquezine, estreando muito bem em uma produção hollywoodiana), herdeira do império empresarial responsável pela derrocada dos Reyes, oferendo uma oportunidade.

Mas, o que era para ser uma promissora entrevista de emprego torna-se o início de algo muito maior, quando Jaime se vê no meio da batalha travada entre Jenny e sua tia Victoria (Susan Sarandon), na qual há uma clara divergência de interesses, sobre como um poderoso artefato alienígena deverá ser usado – com a tendência à formação de soldados super resistentes em larga vantagem.

Ao levar (sem a menor noção do que se trata) o objeto para casa, Jaime se rende é curiosidade exagerada de seus familiares e acaba se tornando hospedeiro da entidade que vive no interior da relíquia em forma de Besouro – azul, obviamente – conhecida como Khaji-Da (voz de Becky G), que lhe fornece uma espécie de armadura, repleta de possibilidades e poderes.

Com tanto em jogo (no que diz respeito não só a dinheiro, mas a um controle de níveis quase absolutos), o protagonista vira um alvo fácil para Victoria Kord, que não parece ter nenhum pudor em se livrar de qualquer um que possa ser considerado um obstáculo entre ela e seu ansejo de domínio.

Para contornar o mal que o cerca, Jaime contará com a ajuda de seu pai Alberto (Damián Alcázar), sua mãe Rocio (Elpidia Carrillo), sua irmã caçula Milagro (Belissa Escobedo), seu tio Rudy (George Lopez) e sua avó Nana (Adriana Barraza). Aliada à família que conheceu recentemente, Jenny também fará de tudo para impedir o resultado trágico que a interrupção da simbiose entre o jovem e a entidade poderia causar.

Escrita por Gareth Dunnet-Alcocer, a narrativa se baseia muito levemente nos quadrinhos originais, e acaba criando uma identidade bastante autoral – ainda que faça menções a outras figuras heroicas da DC, não parece obrigada a ser vista como um capítulo corrente da gama de longas realizados até aqui.

Sob a direção de Angel Manuel Soto, “Besouro Azul” é um filme inofensivo, por assim dizer. Levando ao pé da letra a expressão Family Friendly, alcança o status de ser uma opção viável para várias gerações (mesmo que, possivelmente, tenda a agradar os mais jovens). O que significa que existe um abismo de distanciamento entre a obra e o que se costuma associar ao selo DC, visto, na maioria das vezes, com maior austeridade.

A impressão é que há uma tentativa em se encontrar “o caminho do meio”, já que o público parece ansioso em desbravar algo que não seja nem sério demais, nem recorra à galhofa pura e simples.

Equilíbrio complicado de se atingir, ainda mais quando se trata de um personagem cuja origem nas HQ’s já tem 17 anos (se pensarmos no “Besouro” original, a data é ainda mais distante, com a primeira aparição acontecendo em 1939 – ano muito promissor para o surgimento de grandes heróis, diga-se de passagem).

“Besouro Azul” faz a lição de casa, traz um CGI que não compromete (o que tem se tornado pauta de discussões acaloradas até demais) e entrega uma estética bem atraente. Por outro lado, as sequências de ação parecem que tinham mais potencial – em especial no que diz respeito à participação do antagonista Carapax (Raoul Max Trujillo) – nas revistas chamado de “Homem Indestrutível” -, que deixa de ser apenas uma grande ameaça física, para ganhar surpreendentes camadas.

Com duas cenas adicionais (a primeira sendo uma clara referência a uma suposta continuação), é difícil prever qual será o futuro do herói nas telas, seja devido à inexplicável flutuação das bilheterias – que transforma grandes apostas em fracassos comerciais, ao mesmo tempo em que leva títulos impensados à glória imediata -, seja pelas mudanças radicais propostas pela nova gestão da alça cinematográfica da DC.

É esperar para ver o quão alto esse besouro pode voar.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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