Crítica: “Fale Comigo”

Um grupo de adolescentes brinca com rituais de invocação de espíritos até consequências trágicas se espalharem. Essa premissa é bem comum em filmes de assombração, do oitentista “Evil Dead” ao pandêmico “Host”, então, temos uma ideia comprovadamente atrativa e funcional, mas que traz o grande desafio de “Fale Comigo” (Talk to Me), que é fugir da mesmice.

Filmada na Austrália, a produção conta a história de Mia (Sophie Wilde), uma adolescente traumatizada com a perda da mãe. Ele encontra alívio momentâneo em um grupo de amigos, mais precisamente na brincadeira de usar uma suposta mão embalsamada para invocar espíritos, a qual possui regras bem específicas para manipulação. Porém, quando Mia passa a ver o fantasma de sua mãe, tudo começa a ficar cada vez mais macabro.

A introdução feita toda em plano sequência, cujo significado mais profundo só entendemos ao longo da narrativa, já abre o filme com chave de ouro, estabelecendo bem seu clima.

A produção tem um capricho extremo em cada detalhe visual, sonoro e narrativo para contar a história, sendo a computação gráfica praticamente ausente enquanto os efeitos práticos e de maquiagem ganham destaque.

O grande foco da trama, a mão, embalsamada, é um objeto cênico bem detalhado, tanto fisicamente quanto no enredo em si, usada múltiplas vezes de formas diferentes, momentos que ajudam, tanto a entendermos os personagens, quanto a real natureza da mão, de forma gradativa e coerente.

Parte do charme de “Fale Comigo” também está no diálogo fluido com as tecnologias modernas: o tempo de contato máximo com a mão também é o tempo perfeito de filmagens para plataformas de vídeos curtos, discutindo até aonde as pessoas vão perigosamente, para serem notadas nas redes sociais.

Do outro lá, ao vermos o efeito quase lisérgico da mão, a ideia me recorda de período de acesso nos sistemas virtuais atuais (vídeos, redes sociais, vídeos, etc), os quais, quando não colocamos metas de tempo para nós mesmos, podemos facilmente nos perder de forma perigosa quando não estamos em um estado mental adequado, inclusive vícios.

O filme não tem medo de ousar, com os personagens tomando decisões, coerentes muitas vezes apenas dentro de sua lógica pessoal, com consequências desastrosas e levando a uma cascata sangrenta de consequências, tudo isso ajudando a delimitar melhor a mitologia desse mundo sobrenatural,  ao mesmo tempo que exploramos a mente cada vez mais perturbada da protagonista.

Indicado para fãs de terror como um todo, especialmente quem aprecia histórias de assombração e busca algo novo.

por Luiz Cecanecchia – especial para Expressão On Line

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