“- Ele me conhecia profundamente”.
“- Foi por isso que você o deixou?”.
Um diretor de cinema cria uma verdadeira realidade pessoal, um mundo onde cada detalhe sensorial e cada pessoa estão sob seu controle, logo. É uma área profissional que combina perfeitamente com o ego inflado do protagonista de “Passagens” (Passages).
Tomas(Franz Rogowski) é um diretor de cinema em um período entre produções, vivendo uma crise em seu relacionamento atual enquanto vive uma nova paixão.
A ideia de passagem aqui é ampla. De uma cidade para outra, de um lar para outro, de um relacionamento homoafetivo para um heteronormativo. De um filme concluído para aguardar uma nova produção chegar, assim como a espera pelos lucros da produção atual.
Há um desenvolvimento na obra, com as belas tomadas das idas e vindas de bicicleta do diretor ajudando a transmitir a ideia de fluxo contínuo entre locais , físicos e mentais, por todo o filme.
Porém, Tomás é alguém que surge e sai quando quer sem aviso, tanto de espaços físicos quanto de reuniões, ficando irritado quando não existe alguém para recepcioná-lo prontamente e ainda mais quando tentam lhe dar o mínimo de regras de convivência.
Ao longo da história, vemos seu ciúme, sua incapacidade de respeitar qualquer espaço pessoal que não seja o próprio, o quão frágil vai ficando o seu mundo à medida que seu afeto parece mais com cobiça por tudo do que amor real.
Tudo isso em belas paisagens urbanas pela França, nas quais os detalhes do cotidiano nunca são deixados de lado, fazendo você realmente emergir na vida dos demais personagens e no seu processo de compreensão da verdadeira natureza do protagonista.
A narrativa nos ensina o passo a passo de como um relacionamento tóxico é estruturado e disfarçado, assim como seu processo de libertação. “Passagens” é um drama francês que discute as armadilhas do romance e de como nós mesmos, se deixarmos ser engolidos pelo próprio ego ou pelo ego alheio, podemos cair, criar ou manter esses problemas.
por Luiz Cecanecchia – especial para EOL
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