Crítica: “O Porteiro”

Para alguns, histórias do cotidiano podem parecer desinteressantes à primeira vista, mas quando observadas com atenção, a verdade é que elas contêm pontos bem interessantes e que merecem ser exaltados.

Como é o caso de “O Porteiro”, nova comédia nacional que chega aos cinemas, com a responsabilidade de adaptar para as telonas a peça teatral homônima já vista por mais de 100 mil pessoas, desde sua estreia nos palcos em 2017.

Embora essa transição não seja das mais simples, a boa notícia é que o roteiro de Paulo Fontenelle (também à frente da direção) dá conta do recado e o longa cumpre o que promete: fazer rir de maneira fácil e conquistando o espectador, desde os primeiros minutos.

A trama se passa no Rio de Janeiro, nas dependências do condomínio onde se localiza o Edifício Clímax (que também já serviu de moradia para outro ícone da comédia, D. Hermínia, papel de grande sucesso do saudoso ator Paulo Gustavo).

O prédio tem como porteiro o simpático Waldiney (Alexandre Lino), imigrante do Nordeste que, junto à esposa Laurizete (Daniela Fontan), foi para terras cariocas em busca de mais oportunidades para sua família. Através da dedicação a seu emprego, ele já conseguiu colocar duas filhas na faculdade e a caçula, Waldisneya Roberta (Alana Cabral) parece muito propensa a seguir o mesmo bom caminho das irmãs.

Querido pelos moradores do local, o protagonista se vê no centro de uma grande encrenca, ao ser acusado pelo novo síndico Astolfo (Bruno Ferrari), de ter cometido vários delitos, entre os quais, tráfico de drogas e facilitação da entrada de assaltantes nos apartamentos.

Para provar-se inocente, terá que convencer o Delegado (Maurício Manfrini) de que as supostas evidências contra ele estão erradas. E, nada melhor do que contar tudo o que aconteceu naquele dia, com uma riqueza de detalhes que é o combustível ideal para a diversão da plateia.

Com o indispensável auxilio da divertida zeladora Rosinalva (Cacau Protásio), somos apresentados aos mais diversos vizinhos, e percebemos a diversidade de pequenos universos que compõem um edifício residencial. De Dona Alzira (Suely Franco) e seu, digamos, hobby peculiar, à Aline (Aline Campos) – terapeuta holística / estudante de psicologia, há espaço para figuras, no mínimo excêntricas (que o diga o “Gustavo do 801”, vivido por Heitor Martinez, cujos hábitos de higiene permanecem entre os assuntos mais polêmicos nos corredores / elevadores).

O elenco está confortável em seus papéis e seria injusto dar mais destaque a alguém, já que todos têm sua hora de brilhar em tela. O texto é agradável e as piadas funcionam de forma tão natural, que a impressão é a de ser mais um morador que participa da ação – essa, aliás, é a proposta da peça na qual o filme se baseia.

Ainda assim, é possível enaltecer duas participações que, de tão simples, tornam-se inusitadas: a de Suely Franco (que faz de Dona Alzira, uma das presenças mais surpreendentes) e a do lutador de MMA, José Aldo, que interpreta ele mesmo, de maneira absolutamente cômica.

Tudo, sob a uma trilha sonora muito adequada, que conta com duas faixas de Marília Mendonça e com Jaqueline & Luciana, responsáveis pela música-tema “Eu Sou Porteiro”, criada como paródia, a partir de outra canção original da dupla sertaneja de Rio Preto.

“O Porteiro” é uma excelente opção para prestigiar o cinema nacional.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

** Crédito das fotos: Laura Campanella.

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