Crítica: “As Tartarugas Ninja: Caos Mutante”

Desde a sua primeira aparição em uma revista publicada pela Mirage Comics em 1984, “As Tartarugas Ninja”, criação de Kevin Eastman e Peter Laird, já ganharam as mais diversas plataformas. O quarteto foi protagonista de séries televisivas animadas, games e filmes live-actions. Sem contar que também estamparam produtos de todos os tipos, de brinquedos a materiais escolares, de roupas a alimentos.

Por esse motivo, quando uma nova produção cinematográfica foi anunciada, cheguei a questionar sua necessidade. Felizmente, “As Tartarugas Ninja: Caos Mutante” (Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Mayhem) não só me surpreendeu, como reacendeu o meu apreço pelos irmãos antropomórficos mais simpáticos da cultura pop.

Além do estilo de animação mais moderno, a maior novidade do longa são as alterações trazidas pelo roteiro de Seth Rogen (que também é o produtor), Jeff Rowe (também à frente da direção), Ewan Goldberg e Brendan O’Brien. Algumas bem visíveis, como Mestre Splinter (voz de Jackie Chan, na versão americana) que retorna às origens e aparece como um rato, desde o princípio – não mais como um humano que se transforma em um roedor mutante, como visto em algumas produções anteriores.

Assim como April O’Neil (voz de Ayo Edebiri / Any Gabrielly), que deixa de lado o surgimento que varia entre assistente de laboratório / repórter de televisão,  para ser apresentada como uma jovem estudante de jornalismo, que busca uma história interessante o suficiente para blindá-la do bullying que sofre em seu colégio.

A trama gira em torno dos irmãos com nomes de pintores renascentistas: Leonardo (voz de Nicolas Cantu), Raphael (voz de Brady Noon), Donatello (voz de Micah Abbey) e Michelangelo (voz de Shamon Brown Jr.), que, junto a Splinter, vivem escondidos nos esgotos de Nova York, mas, como adolescentes que são, sonham com a superfície e tudo que poderiam ter se compartilhassem o mesmo espaço que as pessoas.

De assistir a um show presencial do BTS, a frequentar o ensino médio, os sonhos dos garotos de 15 anos são os mais variados. Mas, por razões óbvias (já que os humanos em geral, mal sabem conviver com outros semelhantes), eles só têm permissão para sair às ruas na calada da noite, a fim de obter suprimentos – o que não significa que algumas escapadas não aconteçam e acabem rendendo cenas com situações absolutamente incríveis, como uma que envolve um grande clássico dos cinemas da década de 1980.

Mas, não seria um filme de heróis, se não houvesse vilões. E a tarefa de representar o lado mau da história fica a cargo do Super Mosca (voz de Ice Cube), primeira cobaia de Baxter Stockman (voz de Giancarlo Esposito), cientista que criou o mutagênico responsável pela mescla de características humanas e animais.

Junto a ele, figuras conhecidas como Bebop (voz de Seth Rogen) e Rocksteady (voz de John Cena) partilham intenções pouco louváveis que colocam em evidência a iminente extinção da nossa espécie e ajudam a amplificar a nostalgia dos fãs prévios – ao mesmo tempo em que despertam a atenção dos espectadores da geração que só agora adentram esse mundo.

Com tantos elementos funcionais, incluindo uma das mais empolgantes perseguições de carro que eu já vi nas telas (com direito a uma canção que nunca mais conseguirei ouvir da mesma forma), não parece exagero dizer que “As Tartarugas Ninja: Caos Mutante”, não só é uma das melhores animações dos últimos anos, como também é uma das mais revigorantes produções em geral.

O visual calcado na estética estilizada da arte digital oferece a modernidade necessária para atingir um novo público acostumado com tal proposta, enquanto o brilhante roteiro sabe equilibrar informações inovadoras e clássicas – sem que pareça apenas uma porção de easter-eggs colocados quase que de maneira obrigatória – para reconquistar (com sucesso) os corações de quem já conhece e aprecia os personagens.

Bagagem para se fazer sequências, há de sobra e a vontade de se realizar tal feito é bem evidente, ainda mais com o que é mostrado na cena adicional. Estaremos com nossas pizzas pizza de pepperoni, esperando ansiosos por isso.

Imperdível.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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