Crítica: “Blackberry”

Se, por um lado, o ser humano dá sinais de involuir emocionalmente a olhos vistos, por outro, é notório seu avanço em relação a veloz (quase desesperadora) modernidade que ocupa nosso cotidiano, tendo como mola mestra, a tecnologia e todas as suas ramificações.

Parte dessa corrida desenfreada pelo que há de mais atual é dominada pela telefonia móvel, que possui nos smartphones um trunfo que parece fadado ao êxito permanente, uma vez que se tornou uma missão impossível desvencilhar-se dos aparelhos, não importando o quanto possam ser inconvenientes em muitos momentos (sim, você sabe quais são essas situações).

Baseada no livro de Jacquie McNish e Sean Silcoff, “Losing the signal: The untold history behind the extraordinary rise and spectacular fall of Blackberry”, chega aos cinemas a biografia “Blackberry”, que conta da criação ao desaparecimento daquele que pode ser considerado o primeiro smartphone do mundo.

Com a inovadora ideia de que quem colocasse um computador dentro de um celular dominaria o mundo, os amigos Mike Lazaridis (Jay Baruchel) e Doug Fregin (Matt Johnson, que atua, dirige e é um dos roteiristas junto a Matthew Miller) produzem, em meados da década de 1990, em Waterloo – Canadá, um aparelho capaz de fazer mais do que simples ligações.

A possibilidade de enviar mensagens instantâneas, através de um sistema próprio, revoluciona a maneira como os usuários do telefone passaram a se comunicar, em especial no âmbito corporativo (mal sabiam eles o quanto essa influência ditaria comportamentos nas décadas seguintes).

Mas, a dupla carece de apoio financeiro para que sua ideia possa ser conhecida além das paredes do pequeno escritório alugado, que servia como laboratório de engenharia a um grupo de amigos. E é aí que entra Jim Balsillie (Glenn Howerton), executivo cuja ambição sem medida o coloca em uma posição que oscila entre aquele que é sumariamente demitido do emprego anterior e o que consegue, de maneira hábil, fechar negócios de milhões de dólares.

Mike e Jim tornam-se sócios e dividem a posição de CEO da empresa Research In Motion (RIM), que passa a ser um nome de peso da telefonia móvel, chegando, em seus anos áureos, a movimentar 45% do mercado mundial desse ramo.

Nem tudo que é bom dura para sempre e a queda inevitável da ex-RIM (agora chamada Blackberry) torna-se tão impactante quanto sua ascensão meteórica, quando Steve Jobs e sua marca (que também tem nome de fruta) chegam para, não só rivalizar, mas nocautear concorrentes, com o lançamento do iPhone – aparelho que, graças a constantes atualizações, consegue manter-se relevante até hoje.

Ao misturar comédia e drama à narrativa baseada em fatos reais, “Blackberry” alcança o feito de sustentar o interesse do público por 120 minutos de duração. Assim como é válida a opção de não transformar o longa em algo que enveredasse exageradamente para o ramo administrativo ou que precisasse explicar com minúcias o funcionamento de sistemas.

Fãs declarado de cinema, em dado momento, Doug Fregin cita uma frase do filme de 1985, “Clube dos Cinco”, de John Hughes: “Quando crescemos, nossos corações morrem”. E agora me pego pensando se o sentido desse crescimento é muito mais abrangente e também diz respeito à perda de nossa capacidade de lidar com o progresso, seja em qualquer área de nossas vidas.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

Comments are closed.