Crítica: “Bons Companheiros”

Conhecido por uma longeva e bem-sucedida carreira, e pelo fato de não usar dublês nas cenas de luta (sempre magnificamente coreografadas) vistas nos mais de cem filmes dos quais participou, Jackie Chan tornou-se uma lenda do cinema do gênero ação.

Mas, o tempo é rigoroso com todos e seria improvável imaginar que o veterano ator – aos 69 anos – tivesse a mesma força física e /ou disposição para seguir estrelando sequências de tirar o fôlego dos espectadores. E é por isso mesmo que “Bons Companheiros” (Ride On) torna-se ainda mais surpreendente.

A trama do longa escrito e dirigido por Larry Yang se passa em Hong Kong e gira em torno da dupla formada por Luo Zhilong (Jackie Chan) e seu estimado cavalo Red Hare. A convivência dos dois se dá desde o nascimento do animal, há três anos, quando este é salvo da eutanásia (por problemas físicos apresentados logo depois do parto), para tornar-se o melhor amigo do veterano dublê de produções de ação – que amarga um doloroso hiato de anos em sua trajetória profissional, devido a um acidente durante uma filmagem.

Com dívidas em aberto e sem a possibilidade de honrá-las, Luo acaba entrando em confronto com o cobrador, Da Mi (Andy On), que pretende despejá-lo de sua residência. A gravação da briga torna-se viral nas redes sociais, o que traz novas e inesperadas oportunidades de trabalho para o protagonista.

Mas, a comemoração do retorno precisa ser adiada, uma vez que Luo corre o risco de ver Red Hare ser leiloado, sob a justificativa de que o animal foi comprado com o dinheiro da empresa de Wang, seu amigo falecido há um ano e quem doou o filhote recém-nascido a ele.

Quem entra com a ação é o prestigioso colecionador de cavalos He Xing (Rongguang Yu), que pretende colocar Red Hare entre os mais de trinta animais residentes na propriedade da Flying Dragon Group, instituição da qual é presidente.

Para evitar tal perda, Luo recorre à filha Xiaobao (Haocun Liu), com quem não mantém um relacionamento próximo, desde seu divórcio, ocorrido antes do primeiro aniversário da menina. Caberá à agora jovem estudante de direito, junto ao recém-formado namorado Mickey (Qilin Guo), deixar de lado mágoas e frustrações passadas, para tentar impedir tal separação injusta.

Apresentada como uma mescla de ação, comédia e drama, a obra brilha nos três gêneros, ao contar com as icônicas sequências de luta (e suas ótimas coreografias), ao mostrar o quão é divertida a intimidade criada entre Luo e Red Hare (que fazem jus à escolha da tradução do título) e ao trazer à tona a grandeza e importância de relacionamentos construídos no decorrer de nossas vidas (assim como a necessidade de continuar, apesar de tudo – o que é lindamente resumido no título original).

“Bons Companheiros” é um êxito completo, que empolga, faz rir e chorar com a mesma facilidade. É o tipo de filme ao qual assistimos com um sorriso no rosto, sem nem mesmo nos darmos conta disso, o que faz dele uma excelente opção para quem busca apenas por algo que faça bem ao coração.

Uma grande (e muito merecida) homenagem, não só à história de Jackie Chan, mas a todos os dublês que fazem do cinema algo ainda mais mágico do que é, através de sua dedicação para convencer o público da veracidade do que se vê em tela. Ainda que hoje em dia, a crescente tecnologia digital de efeitos visuais (importante, tanto para a segurança dos profissionais, quanto para a criação de cenas impossíveis de se realizar com efeitos práticos) acabe tirando um pouco da magia original das produções.

Vale muito a pena conferir.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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