Crítica: “Mavka – Aventura na Floresta”

Animação talvez seja o gênero mais democrático quando se trata de possibilidades de adaptar, de maneira eficaz, variadas culturas para as telas. Baseada na peça teatral “The Forest Song”, de Lesya Ukrainka, a produção ucraniana, “Mavka – Aventura na Floresta” (Mavka: The Forest Song) conquista pela magia impressa em cada detalhe.

Passada quase em sua totalidade na floresta da Ucrânia, a trama escrita por Jeffrey Hylton, Lesya Ukrainka, Yaroslav Voytseshekse começa com um flashback de acontecimentos que causaram uma drástica ruptura entre as criaturas mágicas e os seres humanos (nem é preciso dizer de quem foi a culpa).

Anos depois, não há nenhum tipo de contato entre os dois mundos e o segredo mais bem guardado do local, a Fonte da Vida, parece estar seguro da maldade daqueles que têm o egoísmo e a ganância enraizados em suas existências.

Com a chegada da Primavera (em uma sequência belíssima de transição do cenário coberto de neve, para a renovação proporcionada pelo calor do Sol), Mavka (voz de Laurie Hymes na versão original e Lhays Macedo na versão nacional) – a Alma da Floresta – desperta. E, ao lado do adorável Pantanoso – o último dos “sapogatos”, ela terá a missão de proteger o local e seus habitantes.

Tudo parece caminhar de acordo com o previsto, até a aparição de Lucas (Eddy Lee / Hugo Bonemer), jovem músico que sonha com a possibilidade de fazer carreira na cidade grande. Mas, obrigações prévias o prendem à sua vida atual e ele aceita a missão de encontrar uma determinada árvore – objeto de desejo da ambiciosa Kylina (Sarah Natochenny / Roberjane Andrade) – a fim de conseguir dinheiro para tratar seu Tio Léo (Scottie Ray), que se encontra à beira da morte.

Ao se embrenhar na floresta, Lucas cruzará o caminho de Mavka e esse será o ponto de partida para uma jornada de descobertas enriquecedoras para ambos, regada à música, magia, respeito pelo próximo e, principalmente, amor.

Dirigida por Oleh Malamuzh e Oleksandra Ruban, o longa é encantador, em todos os aspectos. A inclusão de criaturas mágicas das mais diversas, indo de ninfas aquáticas a seres com aspectos de nodosos troncos – como o veterano e sábio Guardião, Lesh (Marc Thompson / Bê Telles) – transforma a narrativa em algo ainda mais especial.

Não é nova a ideia de que a raça humana – genericamente falando – parece não se importar em sobrepujar aqueles que se opõem às suas vontades, mesmo que isso signifique ferir seus corpos e almas. Mas, tal constatação sempre será dolorida de se acompanhar.

O que significa que as sequências nas quais a vilania das pessoas é posta de lado, para dar espaço apenas às cerimônias e rituais da natureza são as melhores, e as que ganham, facilmente, o coração dos espectadores.

“Mavka – Aventura na Floresta” consegue o feito de ser admirável, sem precisar recorrer a elementos que a afastariam das raízes de seu país de origem, o que fica ainda mais nítido no que diz respeito ao estilo de vestimentas e à trilha sonora (esta, a cargo de Dario Vero).

Vale muito a pena conferir.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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