Crítica: “Não tem Volta”

Encerrar ciclos nem sempre é fácil. Quando permanecemos envolvidos emocionalmente, torna-se ainda mais complicado ver quem amamos partir.

A trama de “Não tem Volta” gira em torno do término do relacionamento entre o vendedor de carros, Henrique (Rafael Infante) e a fotógrafa Gabriela (Manu Gavassi). Além do desgaste natural das relações duradouras, o casal enfrenta outro agravante: o ciúme excessivo, o que leva ao rompimento, após três anos de convívio.

Enquanto Gabriela viaja o mundo a trabalho e acrescenta as mais diversas experiências a seu currículo (profissional e pessoal), Henrique não se conforma com a nova rotina solitária  e, após um ano de separação, toma uma decisão drástica: dar fim à sua vida.

Sem coragem para resolver por si próprio, ele contrata os serviços de uma “empresa” especializada executar pessoas, mediante pagamento. Liderados por Arlindo (Roberto Bomtempo, em participação curta, mas muito divertida), os matadores de aluguel têm apenas uma regra que não pode ser quebrada: após a contratação de seus serviços, não é possível desistir, ou seja, não tem volta.

Bastante seguro de si quanto ao trágico final que o aguarda – inclusive com uma incrível ética de organização sobre bens materiais a serem deixados para trás – Henrique só não contava com uma coisa: o retorno de Gabriela, que planeja reatar o relacionamento. Agora, caberá a ele encontrar alguma brecha na transação com os assassinos, antes de perder a nova chance de ser feliz ao lado da mulher que ama.

A partir desse ponto, o roteiro de Fernando Ceylão ganha ares de título de ação, com direito a perseguições, segredos e mantendo um bom timing cômico, com passagens – em sua maioria, simples – mas eficazes. O jogo de cintura mostrado pelo protagonista, para desvencilhar-se de supostos executores, sem que sua companheira perceba o que está acontecendo, rende bons momentos.

Mesmo que aborde temas mais sérios – como dependência emocional excessiva e pensamentos suicidas, o longa dirigido por Cesar Rodrigues acerta ao não enveredar com profundidade nos assuntos, uma vez que não é esse seu intuito. Tudo é tratado de maneira suficiente para integrar os tópicos à história, porém, mantendo o viés da comédia como arco principal.

Certas sequências parecem exageradas, deixando a sensação de que poderia haver outras soluções para os problemas levantados, mas, no geral, a narrativa ganha a simpatia do público que passa a torcer para que as coisas não sejam tão inflexíveis e que haja algum jeito do casal se dar bem no final.

Que Rafael Infante é um dos grandes nomes do cenário de comédia atual, não é novidade. E, se em “Não tem Volta”, o ator entrega mais uma atuação louvável, há de se dividir o mérito com a boa química que tem com Manu Gavassi, também muito confortável em tela. A dupla é convincente e ganha a atenção dos espectadores, sem esforço.

Por fim, cabe destacar a participação de Diogo Vilela, que, mesmo com pouco tempo em tela, é ótimo. E a surpreendente cena adicional, um dos melhores pontos da produção, exibida durante os créditos finais.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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