Crítica: “Meu Novo Brinquedo”

“Certa vez conheci um homem tão pobre, tão pobre, que a única coisa que ele tinha era dinheiro”. A frase popular, que descreve alguém cuja situação financeira (por melhor que seja) não é suficiente para suprir necessidades emocionais e /ou sociais, também serve para ilustrar a ideia central de “Meu Novo Brinquedo” (The New Toy / Le Noveau Joulet).

Dirigida por James Huth, a comédia francesa que chega para compra e aluguel nas principais plataformas digitais (Amazon, Claro TV, Google Play, Vivo Play, Microsoft e iTunes), conta a história de pessoas cujas realidades díspares se cruzam devido aos caprichos de um garoto que, embora muito rico, nada tinha a oferecer.

Empresário tido como o homem mais rico da França, Philippe Étienne (Daniel Auteuil), após a perda da esposa, precisa cuidar sozinho da criação de seu filho único Alexandre (Simon Faliu). Logo fica visível sua total inabilidade para tal feito, uma vez que sua vida profissional facilmente se sobrepõe à rotina pessoal, o que significa que uma grande distância (tanto física, quanto emocional) separa pai e filho.

No 11º aniversário de Alexandre (o primeiro, sem a presença de sua mãe), o garoto ganha permissão para escolher qualquer coisa que desejasse de uma das muitas lojas pertencentes a Philippe. Nessa busca pelo presente perfeito, o garoto decide por algo tão inusitado, quanto absurdo: ele quer de presente, o guarda noturno do estabelecimento.

Com dívidas prévias, a companheira Alice (Alice Belaïdi) prestes a parir, e tentando manter o recém-conquistado emprego, Sami Chérif (Jamel Debbouze) submete-se ao desejo no aniversariante e é levado à mansão da família Étienne, onde precisa fazer tudo que o menino mandar.

A tentadora proposta de sólidos pagamentos diários para cumprir tal missão faz com que ele encare as mais absurdas solicitações, todas repletas de soberba e descaso por parte de Alexandre. Para o jovem, Sami não passa de mais um brinquedo exclusivo, que logo há de perder a importância.

Mesmo sabendo da justificada frustração que o “pobre menino rico” sente pela impossibilidade de ter sua mãe a seu lado, confesso não ter sido tarefa fácil simpatizar com ele. Talvez fosse necessário ter a consciência / paciência de Sami, para dar tempo de enxergar o que há por trás da fachada de milionário que se acha melhor do que todos que o cercam.

E é essa dedicação que dá forma ao roteiro de Jamel Debbouze, Mohamed Hamidi, James Huth, Sonja Shillito e Francis Veber. Aos poucos, torna-se gratificante ver a evolução de cada personagem – dos protagonistas aos coadjuvantes – em tela, cada um se agarrando ao que lhe faz mais falta, sejam bens materiais (hipocrisia afirmar que não são necessários), ou riquezas imateriais (que não ajudam a quitar boletos, mas nos fazem levantar da cama a cada dia).

Sob os acordes de “Let me play with my toy” (de Dans Le Kosmos), com delicadeza e sem pretensão de aplicar severas lições de moral, “Meu Novo Brinquedo” acaba sendo uma daquelas boas opções para quando o mundo nos faz duvidar de muitas coisas que vivenciamos.

Para nos lembrarmos de algo que parece trivial, mas nem sempre é aplicado como deveria, tão bem resumido nas palavras de Sami: “Na vida, quando você gosta das pessoas, você demonstra”.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

Comments are closed.