Crítica: “Os Segredos do Universo por Aristóteles e Dante”

Leitura é uma das minhas grandes paixões. Mas, como todo leitor que se preze, minha vontade de estar com um livro em mãos é infinitamente maior do que o tempo disponível para isso, o que significa que algumas (muitas!) obras acabam passando batidas, mesmo que mereçam atenção.

Sendo assim, ao assistir a “Os Segredos do Universo por Aristóteles e Dante” (Aristotle & Dante discover the Secrets of the Universe) ), tudo que eu sabia era tratar-se de uma adaptação literária de um livro de 2012, escrito por Benjamin Alire Sáenz. E foi dessa maneira, que trilhei a estrada junto aos protagonistas de um dos filmes mais adoráveis de 2023.

A trama se inicia no verão de 1987, na cidade americana de El Paso. Logo somos apresentados a Angel Aristóteles Mendoza (Max Pelayo) – ou, simplesmente, Ari – jovem descendente de mexicanos, que parece só encontrar conforto de verdade em seu mundo particular, não fazendo questão de ser popular ou conquistar várias amizades.

Essa introspeção é posta a prova quando conhece Dante Quintana (Reese Gonzales). Também de origem latina, ele é o oposto de Ari, com uma espécie de otimismo nato, que insiste em lhe dar uma aura de pessoa que acredita na beleza do mundo (e que sonha em descobrir os tais segredos do universo).

Embora tão divergentes, os dois acabam percebendo o quanto suas diferenças tornam-se ínfimas diante de tudo que podem fazer juntos. Se a adolescência é uma fase naturalmente complicada, é certo dizer que ela pode tornar-se mais fácil de enfrentar quando temos alguém que se importa ao nosso lado.

Essas descobertas – das sutis que só importam por um instante, às fundamentais que marcarão suas vidas para sempre – dão o tom ao roteiro de Aitch Alberto (que também dirige o longa). A riqueza dos personagens está no fato de serem interessantes o suficiente para  logo nos afeiçoarmos a eles.

Se a dupla principal é tão cativante, o mesmo se pode dizer de seus coadjuvantes (ainda que em participações bem mais modestas). Jaime (Eugenio Derbez) e Liliana Mendoza (Veronica Falcón), que convivem com a sombra da distância do filho mais velho – há anos, cumprindo pena em um presídio – enquanto lutam para  Ari ser tão correto, quanto feliz.

Sam (Kevin Alejandro) e Soledad Quintana (Eva Longroria), cujo relacionamento com – o até então, filho único – Dante, se molda ao redor de carinho, compreensão e proximidade (o que, é provável, tenha contribuído para trazer à tona a luz própria do garoto).

Mas, Tia Ophelia (Marle Forte) – a personagem com menos tempo em cena – possui um dos melhores arcos e faz com que o público também deseje ter uma pessoa como ela em seu círculo familiar.

Vi “Os Segredos do Universo por Aristóteles e Dante” com um sorriso constante no rosto (sempre amplificado a cada cena com a cachorra Perninha), e algumas lágrimas escorrendo dos olhos. E tudo ficou ainda melhor após ler o livro que deu origem à produção.

Percebi que as respostas que tanto buscamos, talvez sejam simples e estejam muito mais próximas do que imaginamos. E que o grande segredo é entender o quanto cada um de nossos pequenos universos particulares é lindo e especial.

Vale muito a pena conferir (nos cinemas e nas páginas).

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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