Crítica: “Maestro”

Entra as apostas para a próxima temporada de premiações, “Maestro” surge como um filme grande, em todos os sentidos. Seja nas múltiplas funções exercidas por Bradley Cooper (que dirige, protagoniza, além de ser um dos produtores / roteiristas), na estrondosa qualidade de algumas de suas sequências ou na interpretação de Carey Mulligan, cujo nome, merecidamente, deve figurar, mais uma vez, nas listas de indicados às cobiçadas estatuetas.

O longa – que faz uma rápida passagem pelos cinemas, antes de chegar ao catálogo da Netflix, em 20 de dezembro – é a cinebiografia do compositor / maestro /pianista Leonard Bernstein (Bradley Cooper com um ótimo trabalho de maquiagem e caracterização), primeiro regente americano a ter reconhecimento na área, consolidando uma carreira marcada por sucessos, incluindo a aclamada trilha de “Amor, Sublime Amor” (West Side Story), de 1961.

Embora sua trajetória profissional seja, obviamente, digna de destaque e a força motriz por trás da obra, o filme consegue nivelar sua importância à vida pessoal do protagonista, que mostra-se alguém que, como ele mesmo diz, ama demais as pessoas – o que o leva a ter inúmeros casos extraconjugais, durante os vinte e cinco anos de casamento com Felícia Montealegre (Carey Mulligan).

Com a atriz costariquenha-chilena, Bernstein teve três filhos, Jamie (Maya Hawke), Alexander (Sam Nivola) e Nina (Alexa Swinton), e um relacionamento flexível para que pudesse dar vazão à sua necessidade de encontra-se com outros homens, contanto que o fizesse de maneira discreta o suficiente para não abalar as estruturas de seu matrimônio, diante da família e de uma sociedade conservadora.

“Maestro” conduz o espectador durante essa trajetória de encontros e desencontros. Para isso, faz uso de belíssimos recursos, como uma delicada transição tão delicada de imagens em preto e branco, para coloridas, que nem mesmo nos damos conta de que algo tão radical aconteceu frente aos nossos olhos.

Também há de se destacar a ousada escolha de um enquadramento não convencional, visto em diversas cenas, com o elemento de maior importância sendo retratado nas laterais da tela, criando uma fotografia tão diferente, quanto imponente.

A narrativa tem uma condução eficaz e linear, mas também é marcada por momentos de grande impacto: seja uma apresentação de teatro musical com ar onírico, a dolorosa discussão de um casal que vivencia o desgaste de sua rotina ou uma poderosa apresentação na Catedral de Ely (na Inglaterra) – durante a qual é possível acompanhar o trabalho de Bernstein com riqueza de detalhes visuais e sonoros.

Com 129 minutos de duração, “Maestro” mantém o ritmo e o interesse do começo ao fim e deve servir como ponte para que mais pessoas venham a conhecer o trabalho de Leonard Bernstein, que, mesmo após trinta e três anos de se falecimento, segue lembrado como o exímio profissional que foi.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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