Crítica: “Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo”

O ano era 2008. Nas Bancas de Jornais e Revistas, uma edição gratuita, contendo apenas oito páginas, mostrava algo, até então, inédito para os fãs da Turma da Mônica: as criações de Mauricio de Sousa tinham crescido.

Dezesseis anos e muitos volumes depois, os adolescentes do bairro do Limoeiro chegam aos cinemas, com a missão de conquistar um público que se deixou ganhar completamente pelas mais recentes obras em live action envolvendo as versões mais novas dos personagens: “Turma da Mônica: Laços”“Turma da Mônica: Lições” e “Turma da Mônica: A Série”.

Com um elenco inédito, “Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo” traz uma narrativa que tem como base o arco de quadrinhos “Super Saga do Fim do Mundo”, cujo vasto material em papel tem potencial para gerar várias produções nas telas – algo que parece já estar em andamento, com a idealização de uma quadrilogia de filmes.

A trama do longa dirigido por Maurício Eça se inicia no primeiro dia de um novo ano letivo, quando os amigos deverão enfrentar os desafios do ensino médio. Como se isso já não fosse complicado o suficiente, acontece a revelação de que o Museu do Limoeiro – dirigido pelo misterioso Professor Licurgo (Mateus Solano) – será leiloado, o que colocará todo seu acervo em risco (repare nos vários easter eggs que há nas dependências desse local).

Para tentar impedir tal venda, Mônica (Sophia Valverde), Cebola (Xande Valois), Cascão (Theo Salomão), Magali (Bianca Paiva) e Milena (Carol Roberto) entrarão em ação, a fim de encontrar uma maneira de manter o Museu aberto, mesmo com a tentadora proposta de Dona Isabelle (Júlia Rabello), socialite mãe de Carmen Fru Fru (Giovanna Chaves).

Enquanto se preocupa com manifestações pró-museu e eleições para presidente de sala, o quinteto também se verá no meio de uma narrativa sobrenatural, envolvendo uma figura mítica do bairro: o temível Cabeça de Balde, vilão que, supostamente, ao ser encarado, deixa as vítimas em estado de catatonia.

A explicação para isso é muito interessante e, dependendo da maneira como for analisada, pode acabar se mostrando bem mais profunda do que o mostrado no roteiro de Sabrina Garcia, Rodrigo Goulart e Regina Negrini, que, aliás, parece querer conciliar o maior número de informações em um tempo relativamente reduzido de 88 minutos.

Com tantos pontos diferentes acontecendo simultaneamente (a paixão nem tão platônica – mas ainda não resolvida – de Mônica e Cebola; o perigo do antagonista, que coloca vários personagens em risco; o desenvolvimento dos poderes de feiticeira de Magali; o iminente leilão do museu), a narrativa não consegue se manter equilibrada todo o tempo, deixando muitas respostas a serem dadas nos capítulos vindouros – o que é sempre um risco que deve ser muito bem calculado.

Embora haja um óbvio estranhamento com essa substituição drástica do elenco (além de uma inevitável comparação), talvez o mais justo seja dar um voto de confiança aos recém-chegados a esse universo tão imenso formado por anos de publicações em quadrinhos.

Assim como na vida real, onde as mudanças acontecem sem parar, sem que muitas vezes tenhamos um ciclo adequado para nos ajustar, mas precisamos seguir em frente – porque, diferentemente do que diz a canção, não temos todo tempo do mundo.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

Comments are closed.