Crítica: Nosso Lar 2: Os Mensageiros”

“Não cortem o que puderem desatar”. Frase simples que ganha uma profundidade imensa quando inserida no contexto de “Nosso Lar 2: Os Mensageiros”, que chega aos cinemas com a complicada missão de contar (sob o viés do espiritismo) uma história de amor, confiança e perdão, que seja forte o bastante para atingir também quem não pratica a doutrina.

Escrito e dirigido por Wagner de Assis, o longa – embora possa ser considerado uma sequência direta de “Nosso Lar” (título de grande sucesso de 2010), funciona como peça individual, já que traz protagonistas e tramas inéditas – baseados no livro de contos “Os Mensageiros”, psicografado pelo médium Chico Xavier, em 1944.

Diferentemente de seu antecessor, a narrativa do filme se passa, durante boa parte, em nosso mundo terreno. Neste cenário, sempre representado por tons frios (ao contrário do mundo espiritual retratado através de muitas cores fortes), acompanhamos a trajetória de três personagens que devem cumprir uma missão especial (designada pelo mentor Aniceto – interpretado por Edson Celulari), mas que mostram-se inaptos a alcançar o resultado almejado pelos espíritos.

Os protagonistas são Otávio (Felipe de Carolis), jovem médium que se desvirtua de sua real atribuição e passa a enxergar seus dons como algo lucrativo e passível de lhe trazer benefícios próprios; Fernando (Rafel Sieg), que reencarna na posição de um bem-sucedido empresário, mas que não faz jus às facilidades que uma alta posição na sociedade poderia trazer não só a ele, mas a muitos que o cercam.

Completando o trio, está Isidoro (Mouhamed Harfouch), o mais ponderado de todos e único a seguir a doutrina em toda sua amplitude, através da manutenção de uma casa de apoio (uma espécie de centro espírita, como conhecemos), local com notável importância para seus frequentadores, mas que carece de auxílio material para manter-se ativa (exatamente como qualquer um que sabe aceitar o fato de que, enquanto vivemos, o alimento do corpo físico é tão necessário quanto o da alma).

Assim como na Cidade Espiritual, na qual se localiza o Nosso Lar, essas três histórias acabam interligadas na Terra, em algum momento. Porém, as coisas não seguem o rumo esperado e é preciso a mediação de espíritos mais evoluídos – incumbência dada ao já citado Aniceto, a André Luiz (Ricardo Prieto retornando ao papel) e a Vicente (Fábio Lago, com uma das atuações mais impactantes) – providencialmente auxiliados por Antônio (Nando Brandão) e Isaura (Aline Prado).

Intervenção essa, que não pode ser maior do que o livre-arbítrio concedido a cada uma das criaturas viventes, o que faz com que as coisas não sejam tão simples de serem consertadas e alguns atalhos sigam parecendo atrativos, mesmo que conduzam a destinos dolorosos.

Obviamente, os diálogos são fundamentados no texto original da obra na qual o livro se baseia, o que dá à produção um ar didático, mas sem tornar-se cansativa. O ritmo – menos acelerado do que o que costumamos ver – deve soar mais familiar àqueles que frequentam centros espíritas e assistem às palestras neles ministradas.

De toda forma, a entonação das frases (que talvez pareça “automatizada” para alguns), serve para proporcionar uma bem-vinda sensação de calma a quem estiver disposto a absorver o que cada uma tem para oferecer.

Ao término de “Nosso Lar 2: Os Mensageiros”, o que mais me marcou foi uma passagem que me pareceu viável de ser aplicada em vários âmbitos, de acordo com a abertura que dermos a seu significado: “O trabalho de socorro espiritual estará sempre de braços abertos. Mas é preciso querer ser ajudado”.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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