Crítica: “Duna: Parte 2”

Adiamentos parecem fazer parte da franquia cinematográfica de “Duna”. Se o longa de 2021 (merecido vencedor de seis estatuetas do Oscar) teve várias mudanças em sua estreia – devido à Pandemia de Covid-19 – dessa vez o que impediu a disponibilização de seu capitulo posterior na data agendada inicialmente foi a greve dos roteiristas que paralisou Hollywood por vários meses.

Mas, a espera maior do que o previsto valeu a pena. “Duna: Parte 2” (Dune: Part Two) chega aos cinemas no auge de sua competência técnica e entra para aquele seleto time onde figuram as sequências consideradas ainda melhores do que seus antecessores, mesmo que estas sofram o risco de ocupar a posição intermediária dentro de uma trilogia – o que significa que há inúmeras pontas soltas que, só deverão se resolver em uma possível terceira e vindoura parte.

A trama continua se passando em Arrakina, capital do planeta Arrakis, com a maioria dos personagens já estabelecidos para o público. Após a queda da Casa de sua família e a perda de seu pai, Paul Atreides (Timothée Chalamet) encontra abrigo entre os Fremen – sob o comando de Stilgar (Javier Barden).

O povo nativo do planeta passa a vê-lo não mais como um simples estrangeiro, mas como aquele que pode ser Lisan al Gaib, o Messias de uma antiga profecia, que vai salvar a todos da tirania dos Harkonnen e conduzi-los ao Paraíso.

A representação da ameaça é ampliada, quando, ao lado do execrável Barão Vladimir Harkonnen (Stellan Skargård) e seu sobrinho mais velho, Lorde Rabban (Dave Bautista), surge a figura de Feyd-Rautha (Austin Butler), sobrinho caçula do governante, que se mostra um guerreiro cuja implacabilidade e eficiência em combate só se equiparam à sua falta de caráter e sede de poder.

Embora sob a chancela do gênero ficção científica, a história ratifica suas bases como uma grande disputa política (sobre quem vai comandar a extração da especiaria e controlar o esquema frente ao Império Galáctico) e religiosa (com a devoção cega a um hipotético salvador servindo tanto como consolo por um presente temeroso, quanto como esperança por um futuro melhor).

Responsável pelo quase total extermínio dos Atreide, e apenas citado em “Duna”, o Imperador Padishah Shaddam Corrino IV (Christopher Walken) agora manifesta-se em tela, para lutar pela manutenção de sua posição de comandante supremo, após o inesperado aparecimento e grande popularidade do Messias conhecido como Muad’Dib.

A seu lado está a Princesa Irulan (Florence Pugh), sua filha única e nome importante na obra de Frank Herbert, que deve ter um papel ainda mais determinante no – ainda não confirmado – capítulo final da saga cinematográfica dirigida por Denis Villeneuve (também responsável pelo roteiro junto a Jon Spaihts).

E, por falar em participação, quem ganha muito mais tempo em cena é Chani (Zendaya), guerreira Fremen que tem a missão de guiar o protagonista através do ambiente desértico do planeta Arrakis, assim como ajudá-lo a entender os costumes e tradições de seu povo. Durante essa jornada de descobrimento, os dois se envolverão de maneira íntima, desenvolvendo um relacionamento que será posto à prova em vários momentos, por motivos que estão muito além do controle do casal.

Quem também tem a importância aumentada é Lady Jessica (Rebecca Fergusson), agora alçada ao posto de Reverenda Madre da ordem das Bene Gesserit. O controle emocional (e, por que não dizer, mental) exercido sobre Paul e sobre os chamados incrédulos é tão efetivo quanto assustador. Talvez a ficção não esteja tão distante da realidade, afinal.

É óbvio que nada impede o público de esperar a entrada de “Duna: Parte 2” em alguma plataforma de streaming, mas o esmero visual apresentado pela produção é algo cuja escala e qualidade talvez só possam ser admiradas, por completo, em uma (boa) tela de cinema.

Tal opção também faz a diferença no quesito aproveitamento do áudio, que segue impecável – seja em sonorização ambiente ou na trilha magnífica de Hans Zimmer. Não parece precipitado imaginar que haverá muitas menções ao filme na próxima temporada de premiações.

Há uma cena do longa (vista em partes no terceiro trailer divulgado pela Warner Bros. Pictures), na qual, ao admirar o pôr-do-sol em Arrakis – ao lado de Chani – Paul afirma: “É deslumbrante”. Isso diz muito em relação a minha visão sobre “Duna: Parte 2”.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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