Crítica: “Alice no País das Trevas”

Uma das maiores vantagens do gênero terror é sua elasticidade, que acaba servindo de justificativa para muitas decisões. E essa também é o maior benefício de “Alice no País das Trevas” (Alice in Terrorland) que, de acordo com o apresentado em seu material promocional, dava a entender que enveredaria para o slasher, quando na verdade, é calcado no terror psicológico (o que não deixa de ser atrativo também).

Escrito, dirigido, produzido e editado por Richard John Taylor, o longa nos apresenta Alice Aciman (Lizzy Willis), que, após a perda dos pais em um incêndio na casa em que moravam, passa a viver com a avó materna Beth Crismely (Rula Lenska), de quem ela nem mesmo se lembrava, já que não havia um histórico de bom relacionamento familiar.

A nova residência da protagonista (cujo nome é uma homenagem à icônica personagem do livro de Lewis Carroll, o qual ela afirma nem conhecer, só ter assistido ao filme) é conhecida como “País das Maravilhas”, mas está longe de fazer jus à alcunha, pois, embora seja um imóvel bastante suntuoso – e contar com uma localização privilegiada, estando cercada por seis acres de floresta – parece esconder terríveis entre suas paredes.

Pouco tempo após sua chegada, Alice, inexplicavelmente, adoece e precisa dos cuidados de sua avó. Durante crises febris, os delírios ganham a forma dos famosos personagens de “As Aventuras de Alice no País das Maravilhas” (aclamada obra infantil lançada em 1865), mas, em versões macabras.

As principais figuras estão presentes, ainda que de modo bem diferente e com atitudes que condizem com suas aparências mais realistas (por assim dizer). Como o Coelho Branco (Steve Wraith), que é um homem com uma máscara de coelho e atitudes bem radicais quanto a atrasos. Ou “O Homem Fumante” (Nigel Troup), que transforma a Lagarta em uma espécie de terapeuta humano de capacidade duvidosa.

Pesadelos e realidade criam uma mescla de acontecimentos para confundir o espectador que, depois de um tempo, passa a se questionar sobre o que vê em tela. Será a imaginação de Alice sua maior inimiga, ou a perigosa Rainha Vermelha é alguém a ser temido?

Esse jogo de dúvidas torna “Alice no País das Trevas” uma produção, no mínimo, interessante (para quem gosta de tramas que lidam com o psicológico), assim como pode frustrar quem se deixou levar pela ideia de que veria uma adaptação mais literal (ainda que aterrorizante) do clássico conto de fadas.

Creio que o grande vilão do filme seja seu baixo orçamento. Com personagens e cenários restritos, a história convence em sua tentativa de causar incômodo. Mas, a opção por tantas cenas escuras (talvez para esconder a falta de maiores recursos) deixa a sensação de que algo mais detalhado poderia ser feito.

No fim, uma das frases mais marcantes da obra de Lewis Carroll – dita pelo enigmático Gato de Cheshire – acaba se encaixando, perfeitamente, nessa interpretação tão distante da proposta original: “Somos todos loucos aqui”.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela A2 Filmes.

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