Resenha: “Homem Médico”

Crédito: Divulgação

Ao aceitar fazer a resenha de “Homem Médico” (Novo Século Editora, 2023), não sabia exatamente o que esperar do livro escrito pelo cardiologista Fernando Nobre (com prefácio de Augusto Cury, um de meus autores favoritos), embora a capa da obra indique ser “um romance que retrata o sucesso e o fracasso, o prazer e a decepção”.

Não tenho um bom histórico médico – no que diz respeito a experiências com profissionais realmente dispostos a cumprir suas obrigações, sem parecerem agir no “modo automático” – mas, logo nas primeiras páginas, fui tomada por grande simpatia pelo protagonista, Doutor Reinaldo da Cruz Albuquerque.

Acompanhar seu crescimento – físico, moral e profissional – foi uma jornada repleta de surpresas. Mas, a maior delas, sem dúvidas, foi notar a opção do autor por alternar a história de seu personagem ficcional, com inúmeros fatos verídicos – incluindo informações da área médica (descritas de modo a serem entendidas pelo público em geral, sem soarem enfadonhas ou exageradamente técnicas) e citações dos mais diversos autores (que mesclam-se ao conteúdo com perfeição).

A narrativa nos apresenta Reinaldo, que, desde muito jovem, encanta-se pela ideia de tornar-se médico. Enquanto vemos o passar dos anos – e a proximidade da realização de seu sonho de atuar como clínico geral – também nos tornamos espectadores de seu primeiro amor juvenil (aquele  muitas vezes efêmero, mas que escreve seu nome em nossos corações), de seu ingresso na faculdade de medicina, do encontro com aquela que viria a ser sua esposa, das alegrias e tristezas que moldam os relacionamentos importantes em nossa caminhada.

Entre cada acontecimento, cabem relatos de sua rotina profissional, sempre exaltando a importância de se respeitar o paciente como indivíduo singular, com experiências próprias, e não apenas como alguém que apresenta enfermidades genéricas tratadas de maneira invariável e distante, sendo este o primeiro passo na busca pela cura do corpo e da alma.

Em suas 286 páginas, várias passagens tiveram mais impacto em minha leitura – algumas me levando às lágrimas, outras, convidando a revisitar momentos passados – mas nenhuma delas me foi tão marcante quanto as que lembram o leitor que, por trás do médico, também há um ser humano que, como qualquer outro, pode adoecer.

Confesso que, como tantas outras pessoas, talvez pela prepotência que muitas vezes ergueu uma barreira entre nós, eu também tinha o mau hábito de pensar nos profissionais de medicina como indivíduos quase infalíveis (e, por isso mesmo, distantes dos demais), o que não só é uma visão distorcida, como também injusta – tanto para os que já me atenderam em consulta, quanto para mim, no papel de quem procurou ajuda.

Talvez essa seja a magia dos livros. Trazer à tona algo que, às vezes, nem nos damos conta e que, de repente, quando avaliado sob outra ótica, tanto nos acrescenta. A leitura de “Homem Médico” foi um exercício para desenvolver mais paciência comigo (enquanto paciente), o que, no final das contas, é muito válido.

Sei que a postura de quem enxerga apenas o lado teórico da medicina não vai mudar (quem dera fosse fácil assim), mas não deixa de ser reconfortante imaginar que, em algum lugar, há de haver profissionais reais que pensam como Doutor Reinaldo.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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