Quando “Deadpool” foi lançado em 2016, meu contato prévio com o personagem criado por Rob Liefeld era quase zero. Eu sabia de sua existência, mas nunca tinha lido nenhuma de suas histórias. Talvez (muito provavelmente) por isso, tenha estranhado tanto certas atitudes dele e alguns rumos seguidos pelo roteiro ácido e irreverente.
Para minha surpresa, o filme – apesar da classificação fixada em 16 anos – foi um grande sucesso, arrecadando U$S 783 milhões em bilheteria, o que na indústria cinematográfica significa quase que uma obrigatoriedade em se fazer uma continuação.
Dois anos se passaram e eis que o tal Mercenário Tagarela está de volta às telonas. Sob a nova direção de David Leitch, “Deadpool 2” manteve a mesma essência sarcástica, de humor às vezes duvidoso – nada nem ninguém está a salvo da língua afiada do protagonista, que, se não poupa editoras de quadrinhos, estúdios de cinema ou personagens “rivais” também não se furta em ir de si próprio, o que o deixa mais próximo do público (assim como o já conhecido recurso da quebra da quarta parede, que o põe conversando de forma direta com os espectadores).
Wade Wilson (Ryan Reynolds) parece bem confortável com sua situação de mutante e enverga o uniforme rubro negro com desenvoltura. E, apesar de manter-se claramente no posto de anti-herói, agora já apresenta pontos em que o estigma do heroísmo fala mais alto e faz com que, ainda que permeado de palavras de baixo calão, sarcasmo e má-educação, seja possível enxergar que existe profundidade em seu caráter.
Sem risco de spoilers, dá para dizer que a trama é baseada na tentativa de Deadpool em proteger Russell / Firefist (Julian Dennison) da ira de Nathan Summers / Cable (Josh Brolin, emplacando outro grande papel em adaptações de HQ), um viajante do futuro que tem como alvo o jovem mutante. É claro que antes de qualquer explicação (e que não deve ser revelada antes de se assistir ao filme), há ótimas cenas de ação envolvendo a dupla – e até mesmo nesses momentos mais tensos, sobra espaço para tiradas envolvendo partes do corpo e produções anteriores de Brolin – vista no trailer, a citação a Willy Caolho é genial.
Por falar nisso, o quesito referências, assim como no longa anterior, serve como uma atração à parte. Algumas citações são bem claras e fáceis de notar, outras serão percebidas apenas pelos mais atentos, ou com maior conhecimento da cultura pop em geral, mas todas funcionam à sua maneira e conseguem arrancar pelo menos um sorriso da plateia. Também vale ressaltar a qualidade da trilha sonora, que passa por Air Supply, Dolly Parton, Cher e Celine Dion.
A outra base da narrativa se dá com a formação do improvável grupo nomeado de X-Force. Há uma disparidade tão grande entre os integrantes, que se torna fácil torcer para que, dentro de suas óbvias limitações, eles consigam criar uma unidade eficiente. Destaque para Neena Thurman / Domino (Zazie Beetz), que com sua sorte (cujos resultados ficam ótimos na telona), consegue dar agilidade e novas possibilidades a situações pouco favoráveis.
Se “Deadpool 2” perdeu o ineditismo do primeiro, ganhou muito em qualidade. Dessa vez, já sabemos o que esperar e é interessante perceber como os roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick (além do próprio Ryan Reynolds) conseguiram se equilibrar sobre tantos pequenos detalhes que fazem a diferença no todo. Assim como também vale ressaltar o aumento nas cenas ditas “pesadas” e no texto que pode soar ofensivo para alguns, mas a Fox recorreu e conseguiu manter a classificação de 16 anos (menores podem entrar nas sessões acompanhados por pais ou responsáveis), a mesma aplicada ao título anterior.
Em dado momento, Wade ouve de sua namorada Vanessa (Morena Baccarin) que seu coração não está no lugar certo. Pois eu acho que o personagem finalmente encontrou seu rumo, assim como conquistou o público desejado. Lembrando que há duas surpreendentes / inacreditáveis / engraçadíssimas cenas pós-créditos, então vale esperar depois do término da exibição.
Corra para os cinemas.
por Angela Debellis
*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.
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