Não sou das mais crentes quando se trata de dar uma segunda chance – seja em qual área da vida for – mas, mesmo depois de não ter gostado muito do trabalho anterior do diretor / roteirista Svyatoslav Podgayevsky, “A Noiva”, assisti à sua nova empreitada nos cinemas.
A narrativa do terror russo “A Sereia – Lago dos Mortos” (Rusalka: Ozero myortvykh) é, a princípio, interessante: Uma suposta sereia mal-intencionada decide levar o jovem Roma Kitaev (Efim Petrunim) para seu reino aquático. Para evitar o fato, a noiva do rapaz, Marina (Victoria Agalakova), deverá encarar de frente seus próprios medos – que incluem a pouca habilidade em nadar – e colocar sua coragem e amor à prova para salvar o rapaz.
Inconformada com a perda de seu noivo, a entidade encanta homens que, hipnotizados por sua figura, se deixam levar para o fundo do lago, onde acabam morrendo afogados. Mas, a história mostra que nem sempre essa é a consequência final do maligno encontro e um fato ocorrido há duas décadas, envolvendo justamente a família de Roma, poderá ajudar a mudar o triste destino dos protagonistas.
A sequência que apresenta a história por trás da tal sereia tinha tudo para ser a mais interessante do filme, mas acaba se mostrando tão rasa quanto o resto do enredo. Na mitologia eslava, Rusalka – que aparece no título em sua versão original – é uma espécie de ninfa da água. Há várias versões sobre a mesma lenda e a apresentada pelo longa é a do século XIX, quando uma jovem comete suicídio por afogamento após ser traída pelo noivo e acaba associada a um espírito maligno, condenada a vagar pelo lago onde morreu.
A produção chega aos cinemas do Brasil com uma mistura pouco favorável: o idioma original é o russo, mas a dublagem é americana e as legendas brasileiras. Se o espectador ficar atento a essa conjunção, perceberá que ela talvez não tenha funcionado como deveria, em alguns momentos chegando a prejudicar a imersão na história.
As interpretações também passam longe da eficiência. Victoria Agalakova repete a parceria vista em “A Noiva”e, apesar de ter uma boa presença em tela, não consegue convencer nas cenas que exigem mais profundidade. Sofia Shidlovskaya, que dá vida à Lisa Grigorieva, a “Sereia”, também não entrega um trabalho que faça jus ao gênero terror – mas é possível que o demérito seja do papel em si.
E assim é com todo elenco de apoio – com aqueles personagens que fazem parte do padrão desse tipo de filme – que até parece se esforçar para mostrar sensações de dúvida, medo ou raiva, mas quase não tem êxito algum.
Com duração relativamente curta – 84 minutos – a produção não teria mais o que apresentar caso tivesse mais tempo em tela. Permanece a afirmação de que, se você quer conhecer outro estilo diferente do que o apresentado pela quase totalidade do mercado cinematográfico, acaba sendo uma experiência, no mínimo válida.
Mas, caso esteja à procura de uma obra que consiga de fato provocar bons sustos, ou que no mínimo, deixe a plateia tensa durante sua exibição, provavelmente esta não é a melhor opção.
por Angela Debellis
*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.
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