Crítica: A Última Loucura de Claire Darling

A mente humana é um território muito frágil, entendê-la exige muita sabedoria, paciência, inteligência delicadeza e humanidade. E mesmo assim não é garantia que entenderemos os conflitos causados por ela.

Essa é a premissa do longa “A Última Loucura de Claire Darling” (La Dernière Folie de Claire Darling) dirigido por Julie Bertuccelli – que também é uma dos roteristas – e brilhantemente protagonizado por Catherine Devenue. Angústias, confusões mentais, lembranças e perdas não superadas encabeçam o enredo do drama que é movido à solidão emocional.

É o primeiro dia do verão em Verdonne e Claire (Catherine Devenue) simplesmente acorda com o pressentimento que esse será o seu ultimo dia de vida. Sendo assim, ela resolve desapegar de todos os objetos que a fazem lembrar do passado, colocando-os na garagem de casa para que todos os moradores os adquirissem com um baixo valor, o que, obviamente, gera uma grande confusão.

Apesar de livrar-se dos objetos materiais, a protagonista não pode fazer o mesmo com seus sentimentos, pois os traumas do passado são os que mais a atormentam.

Por essa temática, podemos classificar como uma jogada de mestre a escolha de Catherine Devenue e Chiara Maiostranni. Somente a cumplicidade no olhar de ambas em cena já é um show de atuação, além do fato de também serem mãe e filha na vida real – o que talvez tenha contribuído na construção das personagens. A angústia e o sentimento de solidão presentes na interpretação das duas geram cenas que dispensam diálogos.

Abordando a fragilidade mental do ser humano, mesmo que indiretamente, a obra coloca em questão um tema bem atual: a depressão e suas causas, o quanto a dificuldade em aceitar as adversidades que a vida nos impõe pode trazer malefícios à nossa saúde emocional. Em longo prazo, no caso da personagem, ela não soube lidar com o luto e foi armazenado ressentimentos, tristezas e rancores que em uma idade mais avançada voltam para atormentá-la.

Na sociedade atual as principais causas da depressão são as mesmas: sentimentos que não são colocados pra fora – infelizmente os números de pessoas com essa doença aumentam a cada dia. Ficam também os questionamentos: Os dramas e confusões psicológicas justificam erros? O fato de uma pessoa estar vivendo um momento de luto é motivo para causar dor e transtornos ao próximo?

Claire causou muito sofrimento à sua filha devido ao luto pela perda de seu filho homem. Porém, em um momento desses, se ambas se aproximassem ao invés de se distanciarem, não seria mais fácil encarar a dor e sobreviver a ela?

Um fato que chama a atenção do espectador é a história toda se passar em um único dia em um mix de passado e presente que se confrontam. De início pode gerar certa confusão no público, mas após alguns minutos já podemos compreender o intuito da obra.

Analisando o longa no geral, é uma excelente produção, com elenco de alta competência, uma história triste (porém envolvente)  e a fotografia é magnífica. Dica: Aguardem o final do filme e se surpreendam.

por Leandro Conceição

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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