Crítica: O Grito

Imagine que você tem um documento original e que faz uma cópia desta folha. Agora pegue a cópia e replique novamente. Faça isso várias vezes – sempre usando a folha duplicada mais recente – e a qualidade diminuirá a cada ação. Assim parece ser o caso de “O Grito” (The Grudge).

Dirigido por Nicolas Pesce – responsável também pelo roteiro ao lado de Jeff Buhler -, o longa traz às telas (mais uma vez) uma narrativa baseada no folclore japonês, que tem como cerne a maldição de Ju-On, que afirma que, quando uma pessoa morre através de fúria violenta, seu espírito permanece no local e, qualquer um que tiver contato com esse cenário também sofrerá graves consequências (entenda-se, morrerá), tornando-se mais um elo nessa corrente maligna.

Mas, a lenda propriamente dita, não é explicada no filme – talvez por se imaginar que isso não é de fato necessário, dada a quantidade de vezes que já foi replicada antes, inclusive nos cinemas. Mas, se essa é realmente a ideia, não parece um contrassenso fazer mais uma obra que em nada acrescenta ao que já foi produzido antes?

Tendo como protagonista a policial Muldoon (Andrea Riseborough), recém-viúva, que muda para uma pequena cidade na Pensilvânia com seu filho pequeno – justamente para onde a residência macabra (casa 44 da Rua Reyburn Drive) se localiza -, a história tem várias vertentes que, em comum, têm a tal casa amaldiçoada, onde uma família foi dizimada pela matriarca.

Cada personagem é apresentado como tendo alguma espécie de ligação com o local, o que significa que carrega consigo a tal maldição que tem como destino final a morte. E essa é a base da investigação da policial que, como todo tipo padrão de filmes de terror, acaba se embrenhando em situações onde não foi chamada.

O problema é que essas histórias paralelas são amarradas de forma confusa e com um aparente excesso de cortes. Quando começamos a nos interessar por algum personagem, sua narrativa é interrompida por outra que, embora beba da mesma fonte (a maldição), quebra qualquer linha de entusiasmo com o espectador.

Não que seja suficiente para salvar o filme do desastre completo, mas há de se destacar o bom uso do gore, com elementos explícitos e bem executados. Também vale dizer que a participação de John Cho, Frankie Faison e Jacki Weaver são as mais honrosas.

Embora conte com o ótimo Sam Raimi como um dos produtores, o longa não consegue se sustentar e, quando parece que terá um leve fôlego para oferecer algo intrigante à plateia, os créditos iniciais invadem a tela e aumentam ainda mais o já grande sentimento de frustração que se instala desde o começo da exibição.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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