Crítica: “Top Gun: Maverick”

“Eu sinto a necessidade… A necessidade da velocidade”. 36 anos depois, a frase dita por Tom Cruise em “Top Gun: Ases Indomáveis” parece mais atual do que nunca, graças à instauração de do imediatismo que cerca quase tudo em nossa sociedade.

São maratonas de séries, vídeos virais em redes sociais (que ganham e perdem relevância com a mesma rapidez), remakes, reboots e sequências produzidos quase à exaustão para atender a demanda de quem almeja por entretenimento rápido e contínuo.

Indo na contramão dessa tendência, sob a direção de Joseph Kosinski, “Top Gun: Maverick” chega aos cinemas depois de mais de três décadas do lançamento de seu antecessor dirigido por Tony Scott, que se tornou um dos mais memoráveis títulos dos anos de 1980. E isso é, ao mesmo tempo, surpreendente, assustador e maravilhoso.

É sob os sempre magníficos acordes iniciais de “Top Gun Anthem” (de Harold Faltermeyer e Steve Stevens) que Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise) vem para mostrar que, embora haja a óbvia implacabilidade do tempo (classificado pelo personagem como “nosso maior inimigo”), ele segue como uma das mais interessantes figuras já criadas para as telonas.

Na trama, atuando como piloto de testes e ainda mantendo a patente de capitão (após anos de serviço e diversas recusas a possibilidades de promoções), Maverick é convocado a assumir um inesperado trabalho: voltar à Top Gun, elite da Marinha americana, e liderar uma jovem equipe de pilotos em uma missão cuja importância é tão grande quanto o perigo que suas vidas correrão. Porém, fará isso não como piloto veterano, mas como instrutor, em terra firme – ou pelo menos é isso que parece no início.

Entre os rostos novos, Penny Benjamin (Jennifer Connelly) é a parceira do protagonista, no que parece ter tudo para ser um relacionamento mais sólido. E um que vai trazer à tona, dores do passado: Bradley “Rooster” Bradshaw (Miles Teller), filho de Goose (personagem interpretado por Anthony Edwards, falecido no primeiro longa, e que era o melhor amigo de Maverick). Traumas, promessas e segredos marcam esse reencontro responsável por grandes momentos da narrativa.

Um dos pontos que merecem destaque é o regresso de Val Kilmer ao papel de Tom “Iceman” Kazanski, em uma curta, mas absolutamente impactante participação – esta sendo uma das exigências de Tom Cruise para a realização do filme.

O roteiro escrito por Christopher McQuarrie, Ehren Kruger e Eric Warren Singer consegue, de maneira impecável, intercalar ação pura – quando exibe sequências de voos que transportam os espectadores para dentro das cabines de velozes jatos – e cenas em que a emoção fala mais alto, que funcionam tanto para os fãs prévios, quanto para quem desembarca agora na história.

Há uma grande competência no uso dos artifícios nostálgicos (como a inclusão da icônica faixa “Danger Zone”, de Kenny Loggins, ou um dia ensolarado na praia como cenário para um momento de descontração entre os pilotos), que, mais do que se prender dolorosamente ao passado, servem como uma grande celebração ao que foi vivido e um importante ponto de equilíbrio frente ao que acontece na atualidade.

Não existe a intenção de parecer que o tempo não passou – até porque, estamos falando de 36 anos de diferença entre os títulos -, e é lindo enxergar isso de um jeito que mostre o quanto cada instante não só foi, como permanece muito válido.

São 131 minutos de êxito em todos os quesitos, seja a belíssima fotografia de Claudio Miranda, a trilha sonora original de Hans Zimmer – que também conta com a inédita “Hold my hand”, canção tema composta e interpretada por Lady Gaga – ou a clara dedicação de todo elenco que entrega ótimas atuações.

Então, segure na mão de Tom Cruise e prepare-se para perder o fôlego ao acompanhar o triunfante retorno de Maverick aos cinemas.

por Angela Debellis

*Texto publicado originalmente no Site A Toupeira.

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