Crítica: “Pânico VI”

Embora seja o sexto capítulo da aclamada franquia de terror iniciada em 1996, “Pânico VI” (Scream VI) chega aos cinemas com a missão de ser o pioneiro em duas frentes: primeira trama a se passar fora dos limites da cidade de Woodsboro e primeira vez que Sidney Prescott (Neve Campbell) não está presente.

Um ano se passou desde os eventos mostrados no longa anterior e o roteiro de James Vanderbilt e Guy Busick transporta o quarteto de sobreviventes apresentado em “Pânico” para Nova York, o que significa que o raio de ação de Ghostface cresceu exponencialmente.

Como já era de se esperar, cada um reage de uma forma aos traumas que viveram. Samantha “Sam” Carpenter (Melissa Barrera) busca na terapia uma forma de entender o que sente, enquanto veste a capa de super protetora e coloca a vida social da irmã caçula, Tara (Jenna Ortega) em risco.

Já Chad (Mason Gooding) tenta ser o que mantém o grupo unido e Mindy (Jasmin Savoy Brown) busca tocar a vida adiante, incluindo um relacionamento com Anika (Devyn Nekoda) – esta, um dos novos rostos, junto a Quinn (Liana Liberato), que divide o apartamento com Sam e Tara, e Ethan (Jack Champion), colega de quarto de Chad na faculdade.

Mas, algumas coisas não mudam e o temível Ghostface não só volta a aterrorizar os protagonistas, como tem a personificação mais violenta de toda a saga até aqui. Suas ações são banhadas em violência gráfica bastante explícita (decisão criativa, de certo modo, até surpreendente).

Se a narrativa não traz grandes novidades, o destaque fica para ótimos momentos que permeiam a produção – da sequência inicial (que se tornou uma das minhas favoritas dentre todos os títulos antecessores), passando pela viagem de metrô, que faz uma justa homenagem a ícones do gênero terror, de produções clássicas às mais atuais.

Há de se exaltar também, a sufocante cena passada no interior de uma loja de conveniência que serve para dar uma ideia clara do que esperar dessa nova e muito mais brutal versão do vilão mascarado.

Sem contar com a força de Sidney – uma das final girls mais emblemáticas da história do entretenimento (a atriz Neve Campbell não entrou em acordo financeiro para participar do longa), cabe ao elenco jovem dar conta do legado criado por Wes Craven e Kevin Wiliamson, o que acontece sem grandes esforços (ainda que seja possível sentir que falta algo na composição geral).

De qualquer maneira, é bom rever em tela a indefectível repórter Gale Wathers (Courteney Cox) – única personagem “original” da saga – cuja sólida carreira se funde aos massacres de Woodsboro. Assim como é bem-vindo o retorno de Kirby Reed (Hayden Panettiere), personagem que agradou o público ao aparecer em “Pânico 4”.

Ao não cair na perigosa armadilha de entregar apenas “mais do mesmo”, ou simplesmente manter-se em uma zona segura, sem correr novos riscos, o filme dirigido por Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett mantém o padrão estabelecido pelos capítulos anteriores, com boas reviravoltas e a sabedoria de reverenciar a estrada trilhada até chegar a essa parte (que já teve sua sucessora garantida, antes mesmo de estrear).

Como em todas as produções ficcionais (em especial as de terror), para gostar do que se vê, é preciso deixar passar certos exageros, como a resistência física quase sobre-humana de certos personagens e a veloz recuperação emocional de quem não derrama uma lágrima diante da perda de figuras próximas. Tudo, é claro, para se encaixar nos 123 minutos de duração da obra, além de manter algumas portas abertas para o futuro.

A conclusão é que “Pânico VI” tem um fôlego que eu, sinceramente, não esperava e mostra que a franquia – dentro de suas inevitáveis atualizações e mudanças – segue tendo coisas muito interessantes para oferecer, mesmo depois de quase três décadas de seu começo.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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