É provável que, em algum ponto de nossas vidas, vamos encontrar aquele tipo de amigo divertido, que sempre tem uma piada na ponta da língua (ainda que nem todas sejam, de fato, tão engraçadas quanto ele pensa), e que, mesmo quando parece não levar nada a sério, acaba mostrando que tem um coração imenso e sendo uma espécie de protetor da turma.
Essa é uma boa definição para Billy Batson (Asher Angel), assim como para seu alter-ego, Shazam (Zachary Levi). O herói volta às telas depois de quatro anos de sua estreia nos cinemas, em uma aventura repleta de ação e prova que a indefinição de seu futuro no “novo” Universo DC não parece nem um pouco justa.
Tendo mais uma vez como cenário a cidade americana da Filadélfia, os eventos de “Shazam! Fúria dos Deuses” (Shazam! Fury of the Gods) acontecem três anos após os vistos no longa anterior e trazem a chamada Família Shazam em plena atividade para fazer o bem a quem precisar. Mas, como acontece com certo personagem aracnídeo bastante famoso de quadrinhos da editora rival, eles não têm apoio da população.
Lidar com o passar dos anos – que faz com que seu tempo no lar transitório de Rosa (Marta Milans) e Victor (Cooper Andrews) esteja prestes a chegar ao fim, e com as diferentes ambições de seus “irmãos adotivos” – que nem sempre parecem inclinados a manterem-se fiéis ao juramento que prega a união de todos, já seria complicado o suficiente. Porém, Billy também terá que enfrentar as Filhas de Atlas, três perigosas figuras que chegam a Terra na ânsia de recuperar seus poderes perdidos.
São elas: Héspera (Helen Mirren), Calipso (Lucy Liu) e Anthea (Rachel Zegler). Responsáveis pela surpreendente sequência inicial do longa, as deusas gregas não pouparão esforços para encontrar o escolhido como Campeão da Humanidade, para tomar para si os poderes que lhes foram tirados, não importando se, para isso, os habitantes do planeta tiverem que sofrer duras consequências.
Sob a trilha heroica de Christophe Beck (com direito a clássicos como “Hold on for a Hero” de Bonnie Tyler e “A Little Less Conversation”, de Elvis Presley), a receita do roteiro de Henry Gayden e Chris Morgan é bem simples, mas talvez por isso mesmo, eficaz. Assim que o conflito principal se estabelece, o que vem pela frente pode até ser previsível, mas é executado de maneira tão bacana, que faz a viagem de 130 minutos de duração do filme valer a pena.
Sim, há alguns “poréns”, como a talvez exagerada mudança de postura do jovem de quase 18 anos Billy e de sua contraparte de uniforme e capa, que continua muito mais infantilizada. Mas, os vários acertos da produção acabam se sobrepondo a qualquer derrapada no meio do caminho.
Entre os êxitos, a aparição de diversas criaturas da riquíssima mitologia grega, incluindo Minotauros, Mantícoras e Ciclopes (todos muito bem construídos através de um convincente CGI), com direito a um belíssimo e temeroso Dragão de Madeira (que daria uma ótima figura colecionável). Para melhorar, acrescente alguns Unicórnios – não tão amistosos quanto os dos desenhos animados, pelúcias ou capas de caderno – e pronto.
Agora poderosos, os integrantes da “Família Shazam” mostram-se bastante à vontade em cena: Freddy (Jack Dylan Grazer) e Mary (Grace Caroline Curry) são os que mais se destacam, mas Eugene (Ian Chen / Ross Butler), Pedro (Jovan Armand / D. J. Cotrona) e, especialmente, Darla (Faithe Herman / Meagan Good) também têm seus momentos. Vale ainda ressaltar o quanto é agradável a interação do grupo com o veterano Mago (Djimon Hounsou), peça importante para o desenrolar da trama.
Fechando com chave de ouro, além de contar com duas maravilhosas participações especiais (uma bem visível e esperada, a outra, um belo fan service para os fãs de longa data do personagem), “Shazam! Fúria dos Deuses” conta com duas cenas – uma durante, outra após os créditos finais.
Ambas podem servir de indicativo sobre o que esperar da suposta continuidade da trajetória do herói diante de todas as mudanças sofridas no Universo DC, com demissões, cancelamentos e anúncios de produções vindouras.
Corra / voe para os cinemas.
por Angela Debellis
*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.
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