Crítica: “Sede Assassina”

Uma boa trama de gato e rato, onde um gênio de crime entra numa disputa de inteligência e poder de fogo com um ás da polícia, está nas bases do cinema policial atual.

O filme “Sede Assassina” (To catch a killer) pega o conceito e mergulha nele de forma mais humana, mas mantendo o ritmo intenso alternando entre suspense e ação.

Nele, a policial Eleanor (Shailene Woodley) é chamada pelo investigador-chefe do FBI, Lammark (Ben Mendelsohn), para ajudar a pegar um assassino em massa que está criando pânico na cidade.

Contudo, a própria estrutura policial, ao ignorar os protocolos para se focar em disputas internas de poder, é um obstáculo tão grande quanto a inteligência do criminoso.

A mídia é o grande palco de disputa de egos entre autoridades, manipulando o caso para conseguir dinheiro e influência, usando a investigação como instrumento de propaganda, o que só aumenta o número de vítimas, cria falsas pistas e amplia o estresse de todos os envolvidos.

Fatos que a heroína vai descobrindo das piores formas, à medida que seu tutor, que vive a beira da demissão por ser um dos raros a tentar seguir a lei, tenta resolver o caso com seu auxílio.

Os ângulos inusitados, mas claros e coerentes, de câmera ajudam a transmitir os sentimentos confusos da protagonista ao longo trama e nos fazem emergir naquele mundo cheio de tensão, nosso próprio mundo visto por uma policial que tenta fazer o certo em uma organização de não dá suporte emocional e é usada mais como ferramenta de propaganda.

Nessa terceira camada, da mente da protagonista, o longa continua brilhando. Não temos um policial durão ou brincalhão, mas alguém cheio de traumas que não entrou na polícia em busca de vingança ou de imitar um herói da infância, mas como um meio de direcionar sua mente para um objetivo, a fim de evitar cair em um ciclo de autodestruição.

Da mesma forma, vemos como foi construída a carreira de seu tutor, que vai mostrando como jogos de palavras, dentro de uma corporação, podem causar tanta destruição quanto uma arma. Tudo isso bem transmitido por dois atores que se encaixaram muito bem nos papéis.

Dirigido por Damián Szifron (que também é um dos roteiristas, junto a Jonathan Wakeham), “Sede Assassina” é um filme fora da curva e emocionante para os amantes da ação policial com reflexões bem elaboradas.

por Luiz Cecanecchia

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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