Crítica: “Wish: O Poder dos Desejos”

O centenário da The Walt Disney Company foi completado em 16 de outubro de 2023, e “Wish: O Poder dos Desejos” (Wish) chega aos cinemas brasileiros com a honra (ou o fardo?) de ser o título escolhido para celebrar a importante marca.

Na trama, somos apresentados à Asha (voz de Ariana Debose no original e Luci Salutes na versão dublada em português), jovem com forte senso de justiça e amor à família e aos amigos.

Ela vive no Reino de Rosas e sonha em tornar-se assistente do soberano local, Rei Magnífico (Chris Pine / Raphael Rossatto), tencionando ajudar a realizar o desejo de seu avô Sabino (Victor Garber / Carlos Campanille), que está prestes a completar 100 anos de vida.

A aparentemente inquestionável bondade do monarca – conhecido por cuidar dos desejos mais íntimos de seus súditos – cai por terra, quando a protagonista descobre que, ao contrário do que é dito à população, não há nenhum apreço por seus sonhos, que servem simplesmente para aumentar o poder de Magnífico sobre as pessoas (que, sem nada em que acreditar, acabam tornando-se meras sombras do que poderiam, de fato, ser).

Com a verdade revelada e sabendo que apenas desejos que não coloquem a integridade do Reino (entenda-se autoridade do Rei) em risco serão esporadicamente atendidos, Asha percebe que não há benevolência nas ações do governante, mas uma mascarada ânsia por um controle absoluto – mesmo que, para isso, sonhos precisem ser descartados como se não tivessem nenhum valor.

Impotente diante de tal descoberta, a garota pede ajuda aos céus. O auxílio chega na forma de uma pequenina estrela, cujo carisma e doçura são suficientes para torná-la fundamental na narrativa (ainda que ela não fale nenhuma palavra, só emita delicados sons).

Na jornada até o Salão dos Desejos do Castelo de Rosas, a improvável dupla terá a companhia de Valentino (Alan Tudik / Marcelo Adnet), um gracioso filhote de bode (também agraciado com o poder da estrela, que agora consegue comunicar-se como um humano) e de sete jovens amigos de Asha, cuja relevância varia em tela.

Escrito por Chris Buck (que também atua na direção junto a Fawn Veerasunthorn) e Jennifer Lee, “Wish: O Poder dos Desejos” agrupa os melhores elementos para contar uma história que será muito mais apreciada por aqueles que, assumidamente (ou não) já pensaram em fazer um pedido a uma estrela, como último recurso para algo muito almejado.

O visual ganha forma através da mescla entre animações por computador e o tradicional estilo aquarela das obras mais antigas do estúdio. Felizmente, essa combinação supera com facilidade a estranheza inicial, para logo conquistar a simpatia do público, que também passa a buscar por detalhes que remetam a títulos clássicos, como uma merecida homenagem a tudo que já foi realizado até aqui.

Composta por Dave Metzger, a trilha sonora original mantém a excelência que é padrão da Disney, dessa vez com faixas que podem até não ficar na memória de imediato, mas que conseguem abrilhantar passagens importantes da produção. Seja de maneira emocionante ou divertida, as mensagens são transmitidas com a mesma precisão.

Para mim, o maior acerto do longa foi manter-se firme diante da resolução de não apaziguar comportamentos (recurso tão utilizado nas mais diversas formas de entretenimento atual) e mostrar – sob a óbvia e necessária ótica da magia – que nem tudo no mundo é perfeito ou positivo, que se há pessoas boas, também há aquelas que não terão nenhuma espécie de redenção.

Devido às atitudes, exigências e excessos vistos em dias atuais, é fácil acreditar que “Wish: O Poder dos Desejos” não será uma unanimidade entre os espectadores. Mas isso não é um demérito da animação, apenas a constatação de uma frase dita por Asha: “É com o coração que a gente entende tudo”.

Lembrando que há uma cena durante os créditos finais, que também une simplicidade e emoção e, justamente por isso, torna-se belíssima.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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