Crítica: “Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2”

Terror é um dos gêneros cinematográficos mais nichados, mas, de vez em quando, algum título ganha visibilidade inesperada e torna-se popular, não só entre os entusiastas do tema, mas entre aquela parcela do público que nem fazia ideia do que esperar desse tipo de filme.

Foi o caso de “Ursinho Pooh: Sangue e Mel” (lançado em agosto passado no Brasil), que através de uma proposta com grande chance de tornar-se polêmica, conseguiu uma expressiva arrecadação global (US$ 5,2 milhões no total), quando vista sob a justa perspectiva de seu orçamento pra lá de modesto (cerca de US$ 100 mil).

Obviamente, esse resultado positivo bastou para que uma continuação quase imediata fosse realizada. E, antes mesmo da estreia desse novo capítulo, uma terceira parte já foi anunciada – assim como a expansão do nomeado “Poohverso” – que reunirá nas telas, outros nomes icônicos dos clássicos infantis, em versões bem menos amistosas.

Em “Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2” (Winnie-The-Pooh: Blood and Honey 2), cinco meses se passaram desde os eventos vistos no primeiro longa. Os cidadãos de Ashdown – em sua maioria – não acreditam na inocência de Christopher Robin (agora interpretado por Scott Chambers), em relação ao Massacre do Bosque dos Cem Acres.

Quando novas mortes começam a acontecer, torna-se ainda mais difícil para o protagonista provar que não teve nenhuma participação nos crimes, que, como já é de praxe, envolvem personagens de inteligência duvidosa, com os quais não chegamos a nos importar – salvo raras exceções.

Buscando respostas, ele passa a realizar sessões de hipnoterapia, o que o leva a resgatar lembranças bloqueadas de sua infância, sobre eventos traumatizantes, percebendo que a amizade com Pooh (nessa fase vivido por Peter DeSouza-Feighoney) não era tão inocente quanto imaginava.

Se o seu antecessor foi duramente criticado pela narrativa rasa, “Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2” apresenta uma melhora significativa nesse quesito. O roteiro de Rhys Frake-Waterfield – novamente à frente da direção – e Matt Leslie entrega uma história mais detalhada, com vários arcos sendo desenvolvidos simultaneamente, de maneira satisfatória.

O retorno de Leitão (Eddy MacKenzie) e a introdução de dois novos moradores do Bosque dos Cem Acres dão mais autonomia para as violentas ações de Pooh (Ryan Oliva). E a opção por ter personagens com – ainda que poucas – falas, acrescenta uma dose a mais na periculosidade de suas presenças.

Corujão (Marcus Massey), assim como no clássico literário, mostra-se sagaz, o que o torna competente em seus ataques e articulações. Enquanto Tigrão (Lewis Santer) deixa de lado o aspecto amigável da versão que entrou em domínio público, para abraçar seu lado animalesco, pautado na selvageria extrema. O que significa que, mesmo com uma trama mais coesa, o gore (felizmente) segue como elemento impactante e faz-se presente, em especial, nos momentos finais do longa.

E eu que achava improvável haver alguma grande reviravolta, fui surpreendida por informações que tornam determinadas decisões criativas muito mais interessantes (incluindo o que é visto na cena adicional).

Como destaques, a gritante superioridade das máscaras (que ganham notáveis expressões) e a opção por manter pontos da história contados através de animação com traços sombrios. Uma evolução que agrega, sem afetar a essência que deu fama à produção anterior (para o bem ou para o mal, já que esta foi contemplada com cinco estatuetas na mais recente edição do Framboesa de Ouro).

Sem a preocupação de tornar-se unanimidade, “Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2” acerta aos fincar os pés (e as patas) em uma base que pode até ser questionável em certos aspectos, mas efetiva o bastante para sustentar tudo o que já está previsto para o futuro da franquia nos cinemas.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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