Crítica: Parasita

Diante de todo glamour que envolve a sociedade sul coreana, Bong Joon Ho vem com uma visão mais real, retratando de maneira tanto quanto caricata, os dois lados de um mesmo povo. No longa metragem “Parasita” (Parasite), vemos uma família que beira a miséria, se infiltrar em uma residência da alta-roda por meio de armações.

O filme se inicia apresentando a realidade de personagens que vivem em situação precária, moram em uma espécie de porão bagunçado, onde as janelas dão em uma rua que nitidamente não é uma das mais bonitas ou bem frequentadas. Em meio a toda essa realidade, vemos a família se desdobrar para conseguir captar algum sinal de wi-fi livre, o que é cômico à primeira vista.

A perspectiva muda quando Kevin (Choi Woo-sik) recebe uma proposta de um amigo para dar aulas de inglês para uma garota rica, inicialmente o ele não se sente confortável, pois, apesar de dominar o idioma, ele não possui certificado. E é nesse momento que começam as armações da família: Kevin/ Ki Woo e a irmã Jessica/ Ki Jeong (Park So Dam) falsificam o certificado, para que assim, ele consiga o emprego.

Quando o garoto vai à entrevista, temos o outro lado da trama, uma realidade muito diferente da que foi nos apresentada até aqui: desta vez vemos uma casa ampla, iluminada, sofisticada e com um aspecto extremamente limpo. Kevin consegue o emprego e já nas primeiras aulas percebe uma oportunidade de incluir a irmã na jogada, daí em diante com planos e trapaças, toda a família consegue trabalhar na residência.

O longa de Bong Joon Ho é muito bem costurado, não há uma ponta solta sequer, nada é esquecido. Apesar de ser um suspense, durante boa parte do filme conseguimos nos divertir com os personagens. Há alguns problemas, como a construção da mãe da família rica, como um estereótipo muito claro: uma personagem que não sabe cozinhar, extremamente ingênua, um pouco alienada quanto aos filhos e que passa horas dormindo, contudo não há como caracterizar isso como algo que desabone a obra.

Quando começamos a observar que a família, apesar de divertida está de fato agindo de má fé paramos de achar graça. É estranho, mas a forma que encontraram para sobreviver se torna melancólica, tudo é uma ilusão. Nessa hora tudo começa a desandar e a partir daí não sabemos se sentimos raiva ou pena dos trapaceiros.

O mais interessante é o fato em que tudo é cheio de excessos, os ricos: muito ricos; os pobres: muito pobres; a chuva: se torna uma tempestade que destrói; o cheiro: motivo de morte.

Um filme em que tudo se conecta e faz sentido, um pouco psicodélico, e que precisa ser vivenciado. Assistir a “Parasita” é um experiência que vale cada segundo. É  impossível não sair do cinema com a cabeça perdida em pensamentos sejam eles porque se entendeu tudo ou porque não se entendeu nada. Talvez essa seja a maestria do suspense de Bong Joon Ho.

por Carla Mendes

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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